Sou uma iniciante. Não tenho nenhum tipo de iniciação, não sou descendente de bruxas poderosas e não tenho grimórios que pertenceram a minha família. O máximo que possuo é uma mãe que me ensina o que sabe, alguns livros, uma biblioteca de universidade à minha disposição e curiosidade. E foi este último fator que me abriu as portas para a vivência e o estudo da Bruxaria.
Todos temos que começar de algum lugar. Iniciar a jornada, muitas vezes, é difícil. Sentimos medo, pois tudo o que nos é desconhecido causa medo – principalmente quando não há, a princípio, um mestre que possa nos orientar. Mas para que as portas do caminho permaneçam abertas, é preciso dar um primeiro passo. E este primeiro passo não vem com o estudo, mas sim com a prática do que foi aprendido na teoria.
Quanto mais a Bruxaria se populariza por meio da venda de revistas e livros sobre sua vertente mais conhecida, a Wicca, cada vez mais gente entra no caminho e não dá os primeiros passos. Vão rastejando até a próxima pedra onde se apoiar. Tenho contato com muitas pessoas que estudam a Arte há quatro ou cinco anos, mas que nunca acendeu uma vela ou celebrou uma passagem de estação.
Não adianta estudar, ler e ficar atrás de gente que sabe mais sem colocar em prática o que aprendeu. De que adianta a teoria, sem as sensações e a experiência que apenas a prática traz?
Mas antes de sair por aí tentando transformar água em vinho, é preciso ter em mente que a segurança e a estabilidade energética que permitem o sucesso de um trabalho mágico vem com o tempo. Por isso, é errado começar a praticar logo com feitiços ou ritos sazonais complicados.
É mais seguro e certo começar com elementos simples. O relaxamento e a meditação são dois itens essenciais para acalmar os pensamentos e desenvolver a concentração, fatores essenciais não só para o êxito de um rito, mas também para enfrentar um dia-a-dia cansativo.
Acender uma vela e um incenso em honra aos deuses, de forma simples e singela, também é uma boa forma de começar a lidar com energias muitas vezes desconhecidas ao iniciante. Oferecer aos deuses e espíritos da natureza água e frutas também é uma forma de, gradualmente, criar intimidade com as forças mágicas que permeiam toda a natureza.
Despertar esse tipo de força muitas vezes pode ser perigoso, e é por isso que os feitiços devem ser o último passo para o iniciante na prática de magia. Antes disso, é bom comemorar alguns ritos sazonais, mas de forma bem simples. Com flores, oferendas, uma pequena fogueira. Um rito sazonal para a conexão com a Terra só surte efeito quando a pessoa está com a mente clara, aberta a novas experiências e sem preocupações.
Muitos são atraídos para a Bruxaria por causa dos feitiços, mas eles são o menos importante de tudo. Qualquer sistema mágico é um caminho de harmonia interior e auto-conhecimento - acima de qualquer outra coisa. A capacidade de manipular as forças da natureza é algo secundário dentro deste caminho. E imprescindível harmonizar-se com elas e entender seus ciclos, mas moldar a natureza deve ser deixado para um estágio mais avançado do treinamento.
A Natureza é imprevisível. A verdadeira Arte da Bruxa não é controlar a vontade dos Deuses, mas entender o que Eles sentem e querem de nós.
Texto produzido em 2005 para o extinto Projeto Stregare.
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