Nos últimos anos eu tenho feito muitos trabalhos escuros nessa época do ano. Não no Samhain; não, eu trabalho com vermelhos e laranjas, as cores das folhas que caem, da lua cheia que sobe no pôr do sol. Mas agora, enquanto a espiral segue para Yule e o solstício, e a luz vai diminuindo mais e mais como a objetiva da câmera se fechando, eu quero preto como você não acreditaria.
Nesses últimos anos a prática de acender velas para os feriados de fim de ano tem parecido muito estranhos para mim, errados, e tão, eu não costumo usar essa palavra, blásfemo. Uma pessoa não dá boas vindas à escuridão através do acender de uma vela. Isso parece óbvio para mim, nesses últimos tempos. Talvez eu esteja me tornando velha e cínica e de saco cheio desse espírito natalino com uma alegria forçada. Eu quero me sentar com a escuridão. Isso parece apropriado. Eu não quero me livrar logo dela; isso parece negação, como um medo, como uma ignorância voluntária. É um afastamento preventivo, essa coisa de pular dentro da luz... me parece desrespeitoso, como se fosse ignorar, deixar de lado a realidade da escuridão.
Eu quero me sentar no escuro por um tempo, em quietude. Tempo suficiente, talvez, para que meus olhos se acostumem com isso. Tempo suficiente para que eu possa, talvez, olhar em volta um pouquinho.
Para mim isso tem acontecido, de qualquer forma, e apenas nesses últimos tempos pelo menos. Eu não sei porque minha atitude mudou, mas parece uma coisa tranquila e medida, e não baseada no medo e no desespero ou em depressão de Natal. Talvez eu tenha tido a minha cota de lida com o lado comercial da data, e assim, criar essa forma de negação. Eu não sei.
E nesse ano, eu descobri que quero pintar Styx, a Deusa, Ela do rio negro-azulado, a filha mais velha do Oceano prímevo. Uma deusa negra certamente, mas uma desconfortável; eu nem tenho muita certeza do por quê eu quero fazer um retrato dela. Pois seu nome significa ódio.
Ela é uma figura ambígua ou é, pelo menos, uma feminista radical nela mesma. Ela é uma titânide, uma raça mais antiga que os Deuses, contra os quais, Zeus começou uma guerra pela supremacia. Quando Ele declarou sua guerra, convidou os outros Deuses para ajudá-lo, dizendo a eles que daria status e presentes a quem ficasse a seu lado; e Styx, embora uma titânide, foi a primeira a se juntar a Zeus, indo contra os seus. Por isso, ganhou um rio com o seu nome, um rio sobre o qual os Deuses fazem seus juramentos.
Percebeu? Quando Zeus declarou guerra, o Ódio imediatamente correu para seu lado.
Ela é a própria traidora, esta Styx, embora, claro, descrita em termos gloriosos pelos vencedores que ditaram a história mítica, significando, os Olimpianos, que terminaram dominantes e vitoriosos. Nike, a Vitória, é sua filha, que é, eu suponho, a razão pela qual os olimpianos venceram a guerra, pois quando Styx foi para o lado deles, ela levou sua família com ela. Vitória, filha do Ódio. Algumas vezes fazemos esse reconhecimento, certo?
Mas Styx é uma titânide, e é mencionada por Hesíodo (que trata dos textos mais próximos do começo da história mítica). E a coisa com os Titãs é que eles, geralemente, são pensados como pertencentes de um outro extrato da mitologia, um que talvez fosse parte da mitologia de um povo anterior, que foi assimilado pelos gregos; a guerra mítica entre dois grupos de deuses é uma espécie de representação fossilizada do conflito de dois povos e do jogo de suas tradições. Isso é claramente uma visão simplificada, e verdadeiro apenas em um sentido geral da coisa, mas ainda assim, faz com que eu pense nas raízes de Styx. Quem será que ela foi na verdade?
Eu diria que o seu mito vai ainda mais para traz, como os mitos acontecem quando falamos de atributos dos deuses. Ela sempre foi uma deusa de um rio subterrâneo, e isso é o que ela é em essência. A história de ganhar um rio como recompensa é uma explicação tardia, uma racionalização; o rio sempre foi dela.E também não é comum o fato dela ser uma deusA de um rio, uma vez que a maioria das deidades de rios são masculinas, como uma visita rápida a página de Potami no Theoi.com mostra. Assim, ela é uma rara excessão à regra. E ai, fica a grande dica do quão antiga essa deusa é, ou original, ou até autoctone, nascida daquela terra, uma prova antiga da interação de habitantes locais que não se mudaram, foram apenas adotados. Mas eu não sei.
Ela é, como eu disse, ambígua, e mesmo que seu nome signifique ódio, Styx é tida com patronesse das questões de justiça e verdade. Seu rio é sagrado, e tão poderoso, e Ela sabe disso, que quando os deuses estão mentindo, as suas águas podem envenenar os deuses, e é por isso que os juramentos feitos sobre o Styx são tão poderosos e fortes. Ou, pelo menos, em termos de justiça e verdade para os Olimpianos e Zeus, pois não sei se considero a justiça Dele, a minha.
Eu passei uma noite, não muito tempo atrás, pesquisando sobre Styx, começando com as páginas do Theoi e procurando por questões mais simples. Encontrei ali que existe mesmo um rio, na Arcádia, na Grécia, que se chama mesmo Styx. Demorou um pouco na minha pesquisa para chegar em seu nome moderno e onde ele fica exatamente, mas depois de algumas horas, eu o encontrei e, pensando no que a internet é, não demorou muito para que eu encontrasse uma foto dele. É um tanto dramático, uma fonte alta perto de um penhasco; as pedras em sua base são ásperas e vermelhas e profundas, molhadas... negras. http://www.panoramio.com/photo/22909743, veja vc.
Se eu a pintar, vou fazê-la com os cabelos negros, e longos, e flúidos como deve ser de uma deusa do rio. Ela será vermelha e negro-azulado, r ficará numa sombra. O norte será uma montanha, do submundo, um tipo de sombra que nunca vê o sol, profunda e ambígua e escura.
Quero dizer, se eu a pintar. Ainda não tenho certeza que o farei.
Nesses últimos anos a prática de acender velas para os feriados de fim de ano tem parecido muito estranhos para mim, errados, e tão, eu não costumo usar essa palavra, blásfemo. Uma pessoa não dá boas vindas à escuridão através do acender de uma vela. Isso parece óbvio para mim, nesses últimos tempos. Talvez eu esteja me tornando velha e cínica e de saco cheio desse espírito natalino com uma alegria forçada. Eu quero me sentar com a escuridão. Isso parece apropriado. Eu não quero me livrar logo dela; isso parece negação, como um medo, como uma ignorância voluntária. É um afastamento preventivo, essa coisa de pular dentro da luz... me parece desrespeitoso, como se fosse ignorar, deixar de lado a realidade da escuridão.
Eu quero me sentar no escuro por um tempo, em quietude. Tempo suficiente, talvez, para que meus olhos se acostumem com isso. Tempo suficiente para que eu possa, talvez, olhar em volta um pouquinho.
Para mim isso tem acontecido, de qualquer forma, e apenas nesses últimos tempos pelo menos. Eu não sei porque minha atitude mudou, mas parece uma coisa tranquila e medida, e não baseada no medo e no desespero ou em depressão de Natal. Talvez eu tenha tido a minha cota de lida com o lado comercial da data, e assim, criar essa forma de negação. Eu não sei.
E nesse ano, eu descobri que quero pintar Styx, a Deusa, Ela do rio negro-azulado, a filha mais velha do Oceano prímevo. Uma deusa negra certamente, mas uma desconfortável; eu nem tenho muita certeza do por quê eu quero fazer um retrato dela. Pois seu nome significa ódio.
Ela é uma figura ambígua ou é, pelo menos, uma feminista radical nela mesma. Ela é uma titânide, uma raça mais antiga que os Deuses, contra os quais, Zeus começou uma guerra pela supremacia. Quando Ele declarou sua guerra, convidou os outros Deuses para ajudá-lo, dizendo a eles que daria status e presentes a quem ficasse a seu lado; e Styx, embora uma titânide, foi a primeira a se juntar a Zeus, indo contra os seus. Por isso, ganhou um rio com o seu nome, um rio sobre o qual os Deuses fazem seus juramentos.
Percebeu? Quando Zeus declarou guerra, o Ódio imediatamente correu para seu lado.
Ela é a própria traidora, esta Styx, embora, claro, descrita em termos gloriosos pelos vencedores que ditaram a história mítica, significando, os Olimpianos, que terminaram dominantes e vitoriosos. Nike, a Vitória, é sua filha, que é, eu suponho, a razão pela qual os olimpianos venceram a guerra, pois quando Styx foi para o lado deles, ela levou sua família com ela. Vitória, filha do Ódio. Algumas vezes fazemos esse reconhecimento, certo?
Mas Styx é uma titânide, e é mencionada por Hesíodo (que trata dos textos mais próximos do começo da história mítica). E a coisa com os Titãs é que eles, geralemente, são pensados como pertencentes de um outro extrato da mitologia, um que talvez fosse parte da mitologia de um povo anterior, que foi assimilado pelos gregos; a guerra mítica entre dois grupos de deuses é uma espécie de representação fossilizada do conflito de dois povos e do jogo de suas tradições. Isso é claramente uma visão simplificada, e verdadeiro apenas em um sentido geral da coisa, mas ainda assim, faz com que eu pense nas raízes de Styx. Quem será que ela foi na verdade?
Eu diria que o seu mito vai ainda mais para traz, como os mitos acontecem quando falamos de atributos dos deuses. Ela sempre foi uma deusa de um rio subterrâneo, e isso é o que ela é em essência. A história de ganhar um rio como recompensa é uma explicação tardia, uma racionalização; o rio sempre foi dela.E também não é comum o fato dela ser uma deusA de um rio, uma vez que a maioria das deidades de rios são masculinas, como uma visita rápida a página de Potami no Theoi.com mostra. Assim, ela é uma rara excessão à regra. E ai, fica a grande dica do quão antiga essa deusa é, ou original, ou até autoctone, nascida daquela terra, uma prova antiga da interação de habitantes locais que não se mudaram, foram apenas adotados. Mas eu não sei.
Ela é, como eu disse, ambígua, e mesmo que seu nome signifique ódio, Styx é tida com patronesse das questões de justiça e verdade. Seu rio é sagrado, e tão poderoso, e Ela sabe disso, que quando os deuses estão mentindo, as suas águas podem envenenar os deuses, e é por isso que os juramentos feitos sobre o Styx são tão poderosos e fortes. Ou, pelo menos, em termos de justiça e verdade para os Olimpianos e Zeus, pois não sei se considero a justiça Dele, a minha.
Eu passei uma noite, não muito tempo atrás, pesquisando sobre Styx, começando com as páginas do Theoi e procurando por questões mais simples. Encontrei ali que existe mesmo um rio, na Arcádia, na Grécia, que se chama mesmo Styx. Demorou um pouco na minha pesquisa para chegar em seu nome moderno e onde ele fica exatamente, mas depois de algumas horas, eu o encontrei e, pensando no que a internet é, não demorou muito para que eu encontrasse uma foto dele. É um tanto dramático, uma fonte alta perto de um penhasco; as pedras em sua base são ásperas e vermelhas e profundas, molhadas... negras. http://www.panoramio.com/photo/22909743, veja vc.
Se eu a pintar, vou fazê-la com os cabelos negros, e longos, e flúidos como deve ser de uma deusa do rio. Ela será vermelha e negro-azulado, r ficará numa sombra. O norte será uma montanha, do submundo, um tipo de sombra que nunca vê o sol, profunda e ambígua e escura.
Quero dizer, se eu a pintar. Ainda não tenho certeza que o farei.
2 comentários:
Oi Pietra Saudades de seus Posts!
Amei o Texto!
Por Favor quando rolar mais oportunidades pode traduzir mais coisas pra Nós menos afortunados no Inglês Fluente! Rs ...
Beijos!
Perfeito! Me sinto assim na lua nova, na "lua escura"...
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