Quando Deméter entrou na minha vida, em 2007, eu não sabia direito quem Ela era e não entendi, a princípio, porque uma deusas dessas ia estar comigo. Assim como a maioria das pessoas, eu atribuía à Deusa apenas atributos maternais que não tinham lugar na minha vida aos 21 anos. Mas aos poucos eu fui conhecendo a divindade, seus diversos atributos, suas formas de culto, suas oferendas... e assim eu entendi que, realmente, temos muito em comum.
Apesar de sempre lembrarmos do mito do rapto de Kore, um episódio que reforça o caráter materno de Deméter, essa não é sua única característica. A chave para entende-La é, na verdade, o pensamento de que Ela é uma deusa da terra e a patrona da agricultura. Por conta disso, ganha atributos de mãe: porque Ela é a terra fértil e cultivada que fornece o alimento dos humanos. Por isso seu nome significa, literalmente, Deusa-Mãe - das raízes Da, Deo ou Do, Deusa, e do sufixo Meter ou Mater, Mãe.
Foi Deméter quem ensinou Triptolemos a cultivar o trigo e a fazer o pão, e foi em seu carro puxado por serpentes que ele andou pelo mundo repassando seu conhecimento às pessoas pelo mundo. Por isso, é graças à deusa e sua benevolência que os mortais deixam de ser nômades e, assim, começam a constituir cidades e sociedades - já que, com a agricultura, eles não precisavam ficar se mudando toda hora em busca de comida. Por isso, Ela também é considerada uma deusa civilizatória, mesmo tendo uma intrínseca relação com a vida campestre por seus atributos agrícolas.
Além dos seus ciclos com Kore-Perséfone, Deméter tem um papel importante como uma das Crônidas, os seis filhos de Cronos e Rhea. Ela é uma das mais velhas, nascendo logo após Héstia e antes de Hera. Para mim, as irmãs representam os três aspectos essenciais da constituição do genos (família) na maioria das pólis da Grécia: Ancestralidade (Héstia), Maternidade (Deméter) e Casamento (Hera). Porém, por ser uma deusa solteira, que toma consortes mas não se casa com eles, ela mantém uma certa independência que Hera não tem, e quem nem mesmo Héstia, que abdica do casamento e do sexo, possui.
Outra característica marcante de Deméter nesse aspecto é sua soberania. Ela é uma mãe de muitos filhos, inclusive de descendentes de dois reis entre os deuses, Zeus e Posídon. Além disso existe o romance famoso com o agricultor Iasion (que alguns autores dizem ser, na verdade, o herói Jasão), que gerou Pluto, o deus da riqueza. Mas, em nenhum momento, existe a citação ou a intenção de casamento entre Ela e seus amantes. Deméter é o tipo de mãe que entende os filhos como dela, não dos pais. Ela gera, alimenta, dá a luz e cria sem a interferência masculina - só na concepção. Há, ainda, um traço de características de deusas da soberania da terra, porque ela pode ser amante, pode gerar filhos dos reis, pode dar sua filha em casamento a outro rei, mas ela não se submete totalmente a nenhuma deles.
Portanto, Deméter é uma divindade da terra, da fertilidade, patrona da agricultura. É, ainda, fortemente associada à maternidade e à soberania da terra, que mesmo explorada pelo agricultor não é completamente domada. E é uma deusa de muitos epítetos e muitos domínios.
O culto a Deméter era essencial em diversas cidades gregas (como Atenas, por exemplo) e depois foi instituído em roma, quando Ceres foi associada à deusa grega. Os ritos públicos garantiam a sobrevivência do estado e garantiam que não haveria uma grande estiagem ou uma grande fome. Alguns rito, apenas para mulheres, eram voltados para os atributos de fertilidade e maternidade. E haviam, ainda, os ritos de mistérios - que são um post à parte nessa série.
Eu já fui questionada sobre o meu culto, sobre o por quê ser devota de uma divindade agrícola morando numa cidade como São Paulo. Apesar de não vermos, nós dependemos do que vem do campo. Mesmo que a gente compre cereais integrais em sacos plásticos no mercado, eles vieram de algum lugar que tinha terra e foram plantados em algum momento. Além disso, se pensarmos em Deméter como a deusa que possibilita a criação das civilizações sedentárias, nós não estamos errados em cultuá-las nas nossas cidades.
Vejo em Deméter muitos atributos que pagãos buscam na Grande Mãe cultuada pela Wicca, e até atributos de outras deusas da terra, dos panteões gregos e romanos e até de outras culturas, como a celta e a africana. Não estou dizendo que todos devem cultuá-la, obviamente, mas que ter essa visão nos ajuda a compreender os ciclos da terra e a necessidade de honrarmos uma deusa mãe, independente de qual for.
Vejo em Deméter muitos atributos que pagãos buscam na Grande Mãe cultuada pela Wicca, e até atributos de outras deusas da terra, dos panteões gregos e romanos e até de outras culturas, como a celta e a africana. Não estou dizendo que todos devem cultuá-la, obviamente, mas que ter essa visão nos ajuda a compreender os ciclos da terra e a necessidade de honrarmos uma deusa mãe, independente de qual for.
Fiz uma lista de mitos interessantes de Deméter. Coloquei os links do Theoi Project que, apesar de ser em inglês, é a fonte mais confiável na internet.
- O Rapto de Kore-Perséfone - http://www.theoi.com/Olympios/DemeterMyths.html#Apollodorus
- O estupro por Posídon - http://www.theoi.com/Olympios/DemeterFamily.html#Poseidon
- A concepção de Perséfone - http://www.theoi.com/Olympios/DemeterFamily.html#Zeus
- O caso com Iasion - http://www.theoi.com/Olympios/DemeterFamily.html#Iasion
- O mito do rico Erisícton - http://www.theoi.com/Olympios/DemeterWrath.html#Erysikhthon
- O mito do rico Erisícton - http://www.theoi.com/Olympios/DemeterWrath.html#Erysikhthon
- Triptolemos - http://www.theoi.com/Olympios/DemeterFavour.html#Triptolemos
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