Eu sou uma fã de seriados. Alguns seriados me cativam mais que outros. Sou mais do tipo CSI do que Melrose Place. Sou uma completa fã de Supernatural. E por influência da minha mãe e do meu marido, dois outros viciados em séries, estou nos últimos três dias assistindo O Mentalista como uma doida.
Estou no décimo segundo episódio da primeira temporada. Isso significa que gastei ai umas 10 horas dos meus últimos dias de férias com o seriado já, *risadas*; e está me dando uma perspectiva bem interessante da coisa.
Então vem a pergunta: e o que diabos isso tem a ver com bruxaria?
(se houver por aqui quem não queira saber sobre o episódio 12 da 1ª temporada, eu aviso que este artigo vai conter spoilers. e nesse caso, deixe um comentário e eu te passo uma versão resumida da minha linha de raciocínio)
O pano de fundo do décimo segundo episódio, Red Rum, é esse. A primeira vista é que o assassinato tenha sido feito em um ritual de magia negra, e então eles acabam chegando até a única wiccana da cidade como suspeita. O fato é que, assim como quase todos os assassinatos por "magia negra" que acontecem no mundo real, o assassino não em nada a ver com magia ou bruxaria e faz isso para distrair a polícia e sair ileso (ou se for acusado, por a culpa no capeta e se safar como maluco). Quer dizer, por um lado, eles mostram que bruxaria é algo que não é ruim para os adolescentes (na verdade tinhamos um adolescente espancado que buscava na wicca conforto e segurança), e dois dos policiais da equipe acreditam totalmente no assunto (no caso de um deles, ele tem pavor de bruxaria, e no caso de outra personagem, ela é uma mulher de fé, mesmo diante do ateísmo e ceticismo absurdo do mentalista).
Não parece tão ruim, ahn? Pelo contrário - nós temos, ainda que seja engraçado esse ângulo do medo de um, ou ainda que mentalista seja forma geral um seriado muito cético (o personagem principal é um ex falso vidente), a wicca é vista como algo "não prejudicial".
Preconceitos? A equipe é muito realista - policiais tendem a rotular tudo que fuja do padrão como potencialmente perigoso, e isso vai de grupos ambientalistas a bruxos (e a cada episódio eles se vêem tendo que enfrenhtar esses preconceitos, porque os ambientalistas sempre são suspeitos e nunca são culpados, rs). E aí é que vem a parte que realmente me incomoda.
A bruxa em questão era uma freak. Sabe, aquilo que a gente costuma chamar jocosamente de pink wicca e que opessoal gringo chama de fluffybunny? Roupas estranhas, colares espalhafatosos, olhar de drogada e um tantinho fanática. Com um passado de problemas psiquiátricos leves, e uma vida bem ruim antes de entrar na religião.
Que existe preconceito contra tudo que é diferente, é um fato. E religiosidade diferente da usual já tende a ser encarada com preconceito. Então eu fiquei pensando - o que será que a própria comunidade neopagã não faz que acaba piorando uma imagem distorcida? Não dá para negar que a gente com certeza conhece pessoas como a bruxinha do seriado.
Não estou justificando o preconceito. No meu mundo ideal, isso não existe e todos são aceitos como são. Mas não estamos em Star Trek. E assim como existem atitudes que fazem uma mulher andando sozinha ser encarada como um alvo fácil por um agressor, existem atitudes que tornam as pessoas um alvo fácil para o preconceito.
Acho que vale a pena pensar - como a gente se apresenta para o mundo? Será que nossa atitude não reforça preconceitos?
Será que não existem posturas que fazem neopagãos e bruxos em geral parecer com os neopentecostais fanáticos, que assim como os pagãos pink queimam o filme de tantos neopentecostais que são pessoas bacanas?
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Não acho que vc precise se vestir como uma freira ou padre. Só agir com naturalidade. Ser você mesmo e não um personagem criado para chamar atenção ou desviar as pessoas de quem você é. Personagens são legais, fazem nos sentir seguros - eu sei, eu jogo RPG a catorze anos. Mas personagens tem seu lugar - na mesa de RPG ou outros jogos de interpretação. Quando contamos histórias. No teatro. Mesmo em alguns rituais, dentro de um contexto, se interpreta um papel. .
Mas o personagem é importante porque podemos tirar a máscara e guardar. E sermos nós mesmos.
Uma vez, conversando com a Pietra, ela falou sobre como quando ia dar uma palestra ela tomava o cuidado de usar roupas normais. E isso me colocou para pensar. Com essa atitude, ela ajuda a mostrar que bruxaria é algo normal, não para aparecer na TV em época de dia das bruxas com áudio de filme de terror da década de 50.
Então, fica a reflexão. Como você se mostra para o mundo? Suas atitudes reforçam preconceitos ou ajudam as pessoas a verem que todos somos pessoas completas, com uma vida normal? Você está sendo você mesmo para o mundo, ou está preso dentro de um personagem que cedo ou tarde pode sufocar você?
E isso vale, sim, principalmente, para um contexto religioso, mas também para várias outras coisas. Precisamos pensar como relações públicas as vezes. E principalmente - temos que viver nossa vida para nós mesmos, e não agindo como as pessoas esperam que a gente aja.
como você quer ser vista?
4 comentários:
Eu adoro The Mentalist!!!!!
E gostei muito das reflexões aqui propostas. Rótulos nos deixam engessados, ao mesmo tempo em que nos fazem "pertencer" a um grupo. O lance é não deixar "subir demais pra cabeça" (rs).
Rótulos são complicados. Sempre nos deixam formar pre-conceitos e isso é tão perigoso. Não vale a pena.
Ter uma mente o mais livre possível é o que nos alavanca para o conhecimento.
Beijos!
Gostei muito do blog.
Se quiserem visitem o meu.
Sabe, uma das coisas que eu amo na bruxaria são essas "coincidências".
Graças aos textos da Pietra no Bruxaria.net eu decidi mudar meu relacionamento com meu deck, estava muito formal, e decidi torná-lo mais leve, peguei um arcano maior ontem e decidi estudá-lo hoje. Meu deck é o egípcio e saiu o Crepúsculo (18), que pelo que li fala de ser hora de encarar nós mesmos sem personagens, e então, cheguei a esse texto meio por acaso, confirmando a lâmina.
Isso é magia! rs
Texto maravilhoso, daqueles que precisam ser guardados e relidos de tempos em tempos para garantir que nunca esqueçamos o que ele fala.
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