terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Uma questão de imagem

Eu sou uma fã de seriados. Alguns seriados me cativam mais que outros. Sou mais do tipo CSI do que Melrose Place. Sou uma completa fã de Supernatural. E por influência da minha mãe e do meu marido, dois outros viciados em séries, estou nos últimos três dias assistindo O Mentalista como uma doida.
Estou no décimo segundo episódio da primeira temporada. Isso significa que gastei ai umas 10 horas dos meus últimos dias de férias com o seriado já, *risadas*; e está me dando uma perspectiva bem interessante da coisa.
Então vem a pergunta: e o que diabos isso tem a ver com bruxaria?

(se houver por aqui quem não queira saber sobre o episódio 12 da 1ª temporada, eu aviso que este artigo vai conter spoilers. e nesse caso, deixe um comentário e eu te passo uma versão resumida da minha linha de raciocínio)

O pano de fundo do décimo segundo episódio, Red Rum, é esse. A primeira vista é que o assassinato tenha sido feito em um ritual de magia negra, e então eles acabam chegando até a única wiccana da cidade como suspeita. O fato é que, assim como quase todos os assassinatos por "magia negra" que acontecem no mundo real, o assassino não em nada a ver com magia ou bruxaria e faz isso para distrair a polícia e sair ileso (ou se for acusado, por a culpa no capeta e se safar como maluco). Quer dizer, por um lado, eles mostram que bruxaria é algo que não é ruim para os adolescentes (na verdade tinhamos um adolescente espancado que buscava na wicca conforto e segurança), e dois dos policiais da equipe acreditam totalmente no assunto (no caso de um deles, ele tem pavor de bruxaria, e no caso de outra personagem, ela é uma mulher de fé, mesmo diante do ateísmo e ceticismo absurdo do mentalista).

Não parece tão ruim, ahn? Pelo contrário - nós temos, ainda que seja engraçado esse ângulo do medo de um, ou ainda que mentalista seja forma geral um seriado muito cético (o personagem principal é um ex falso vidente), a wicca é vista como algo "não prejudicial".

Preconceitos? A equipe é muito realista - policiais tendem a rotular tudo que fuja do padrão como potencialmente perigoso, e isso vai de grupos ambientalistas a bruxos (e a cada episódio eles se vêem tendo que enfrenhtar esses preconceitos, porque os ambientalistas sempre são suspeitos e nunca são culpados, rs). E aí é que vem a parte que realmente me incomoda.

A bruxa em questão era uma freak. Sabe, aquilo que a gente costuma chamar jocosamente de pink wicca e que opessoal gringo chama de fluffybunny? Roupas estranhas, colares espalhafatosos, olhar de drogada e um tantinho fanática. Com um passado de problemas psiquiátricos leves, e uma vida bem ruim antes de entrar na religião.

Que existe preconceito contra tudo que é diferente, é um fato. E religiosidade diferente da usual já tende a ser encarada com preconceito. Então eu fiquei pensando - o que será que a própria comunidade neopagã não faz que acaba piorando uma imagem distorcida? Não dá para negar que a gente com certeza conhece pessoas como a bruxinha do seriado.

Não estou justificando o preconceito. No meu mundo ideal, isso não existe e todos são aceitos como são. Mas não estamos em Star Trek. E assim como existem atitudes que fazem uma mulher andando sozinha ser encarada como um alvo fácil por um agressor, existem atitudes que tornam as pessoas um alvo fácil para o preconceito.
 

Acho que vale a pena pensar - como a gente se apresenta para o mundo? Será que nossa atitude não reforça preconceitos?

Será que não existem posturas que fazem neopagãos e bruxos em geral parecer com os neopentecostais fanáticos, que assim como os pagãos pink queimam o filme de tantos neopentecostais que são pessoas bacanas?
.
Não acho que vc precise se vestir como uma freira ou padre. Só agir com naturalidade. Ser você mesmo e não um personagem criado para chamar atenção ou desviar as pessoas de quem você é. Personagens são legais, fazem nos sentir seguros - eu sei, eu jogo RPG a catorze anos. Mas personagens tem seu lugar - na mesa de RPG ou outros jogos de interpretação. Quando contamos histórias. No teatro. Mesmo em alguns rituais, dentro de um contexto, se interpreta um papel. .

Mas o personagem é importante porque podemos tirar a máscara e guardar. E sermos nós mesmos.

Uma vez, conversando com a Pietra, ela falou sobre como quando ia dar uma palestra ela tomava o cuidado de usar roupas normais. E isso me colocou para pensar. Com essa atitude, ela ajuda a mostrar que bruxaria é algo normal, não para aparecer na TV em época de dia das bruxas com áudio de filme de terror da década de 50. 

Então, fica a reflexão. Como você se mostra para o mundo? Suas atitudes reforçam preconceitos ou ajudam as pessoas a verem que todos somos pessoas completas, com uma vida normal? Você está sendo você mesmo para o mundo, ou está preso dentro de um personagem que cedo ou tarde pode sufocar você?

E isso vale, sim, principalmente, para um contexto religioso, mas também para várias outras coisas. Precisamos pensar como relações públicas as vezes. E principalmente - temos que viver nossa vida para nós mesmos, e não agindo como as pessoas esperam que a gente aja.











como você quer ser vista? 

4 comentários:

Green Womyn disse...

Eu adoro The Mentalist!!!!!

E gostei muito das reflexões aqui propostas. Rótulos nos deixam engessados, ao mesmo tempo em que nos fazem "pertencer" a um grupo. O lance é não deixar "subir demais pra cabeça" (rs).

Geórgia Cavalcante Carvalho disse...

Rótulos são complicados. Sempre nos deixam formar pre-conceitos e isso é tão perigoso. Não vale a pena.

Ter uma mente o mais livre possível é o que nos alavanca para o conhecimento.

Beijos!

P. disse...

Gostei muito do blog.
Se quiserem visitem o meu.

Rô Rezende disse...

Sabe, uma das coisas que eu amo na bruxaria são essas "coincidências".

Graças aos textos da Pietra no Bruxaria.net eu decidi mudar meu relacionamento com meu deck, estava muito formal, e decidi torná-lo mais leve, peguei um arcano maior ontem e decidi estudá-lo hoje. Meu deck é o egípcio e saiu o Crepúsculo (18), que pelo que li fala de ser hora de encarar nós mesmos sem personagens, e então, cheguei a esse texto meio por acaso, confirmando a lâmina.

Isso é magia! rs

Texto maravilhoso, daqueles que precisam ser guardados e relidos de tempos em tempos para garantir que nunca esqueçamos o que ele fala.