quinta-feira, 31 de maio de 2007

Uma maçã para Nêmesis


Nêmesis é a deusa grega da ética. Filha de Nix (a Noite), ela cuidava de abater toda desmesura, ou seja, todos os excessos.


Os romanos trouxeram um aspecto da deusa, interpretando-o como "indignação frente a vantagem desmerecida". O poeta Mesomedes escreveu um hino a Nêmesis no início do século 2 DC, no qual ele a chama da seguinte forma: Nêmesis, a harmonizadora alada da vida, deusa de face escura, filha da Justiça.


Em alguns estudos que fiz, descobri que uma das formas dos ítalos se protegerem do mal olhado ou da má vontade alheia é oferecendo preces à Nêmesis. Talvez por todas essas idéias entre gregos e romanos, Nêmesis se tornou uma das protetoras contra o mal olhado. Então, para ela nesse fim, entrega-se incenso, velas e maçãs.


Eu, como descendente de italianos, tenho uma forte crença em mallocchio. Aliás, toda a minha família tem questões contra os "encantados" e o mal que podem causar, algumas vezes até, sem saber. Quando eu era bebê, meu pai aprendeu a benzer contra o quebranto... eu sei como é esse sentimento ruim... então que fique longe.


Bom, a ceifa da Morte foi meu trampolim e coisas mt gostosas estão se estruturando. Então, para a Fênix que está saindo das cinzas, maçãs para Nêmesis e um pouco de paciência para que as coisas se concretizem num nascimento feliz e puro!

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Ancestrais...


Vejo muitas vezes as pessoas idealizando seus ancestrais: ancestrais que parecem muito pouco humanos para mim: sem erros, sem defeitos, sem falhas de caráter. Todos bruxos (!), todos sábios, tudo muito idealizado.

Não podemos deixar de lado que nossos ancestrais eram, antes de tudo, humanos. Com erros e acertos. E o que os torna mais incríveis e maravilhosos é exatamente isso: capazes de erros e acertos, eles conseguiram sobreviver e traçar um caminho.

Quando estudei mitologia, aprendi que o valor maior do Herói reside em sua capacidade de errar, que permite que nos aproximemos dele: não dá para almejar em vida a perfeição de um Deus. Mas o herói, sendo humano, errando, tendo fraquezas, consegue prodígios, consegue ser virtuoso. Podemos portanto nos espelhar nele: apesar dos nossos defeitos, podemos encontrar nos heróis ( e nos nossos ancestrais) um exemplo de que diante da adversidade e da falha, ainda assim somos geniais.

Minha bisavó era louca. Conheci dona Mercedes quando o mundo dela era toldado pela esquizofrenia. Hipocondríaca, e um pouco malvada. Culpava os filhos pelos problemas que teve na vida, e fez cada filha ter um casamento doloroso de algum modo, como se isso compensasse seu sofrimento. Acha que tenho menos orgulho dela por isso? Minha bisa era uma mulher linda. Era inteligente demais, genial mesmo. Em um mundo de gente ignorante, ela era formada. E em algo que a tornava poderosa a seu modo: era parteira. Criou os filhos transformando miséria em fartura. Enlouqueceu quando o marido a proibiu de continuar na sua profissão. Inteligência demais, tristeza demais, desencadearam a loucura, que foi se instalando devagar. Minha avó trabalhava fora, ela cuidou do meu pai. Quando minha mãe estava grávida, ela de olhar sua barriga, do outro lado do quintal, disse que eu seria menina, mas nasceria em posição de menino (todos diziam que era menino), e que nasceria atrasada. Sem minha mãe dizer, ela disse quando era a data prevista do meu nascimento. Uma mulher de fé, tinha uma relação toda especial com a morte. Quando minha mãe foi ajudar a vestir seu corpo, encontraram dentro do guarda roupa toda a roupa que ela mesma tinha escolhido e deixado preparada para o enterro, desde a anágua até o turbante (ela sempre usava lenços bonitos na cabeça).

Lembro de seus olhos meio cegos me olhando, olhando para dentro de mim, no mais fundo. Era miudinha mesmo perto de mim, que sou pequena.

Acho que o que mais amo nessa mulher tão contraditória é sua profunda humanidade. Acho que é isso que resume a minha relação com meus ancestrais: como eu, eles eram falhos, humanos. Posso aprender com eles: seus erros podem evitar que eu cometa os mesmo erros. Seus acertos iluminam o meu caminho. Não é preciso que eu idealize meus ancestrais: minhas ancestrais não era pagãs. Mas eram poderosas sim, ao seu próprio modo, dentro de suas fés e tradições, algumas das quais escolhi honrar em memória delas.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

San Domenico

Maio é um mês de serpentes. Principalmente na região de Abruzzo, na Itália, onde toda primeira quinta-feira de Maio acontece a procissão de San Domenico di Sora, padroeiro dos dentistas e santo que protege contra o veneno das cobras. A superstição ensina que as cobras protegem contra a má sorte as doenças.

Alguns dias antes, na festa de Santa Maria, as pessoas caçam serpentes. Os caçadores cuidam delas, alimentando-as com leite e mantendo os animais em locais com temperatura e luz controladas.

No começo da procissão, os fiéis enrolam as serpentes na imagem do santo, que sai carregada pela cidade. Os mais devotos seguem segurando os animais e orando para o santo. No final, quando a imagem retorna para a igreja, as cobras são devolvidas para a Natureza.

San Domenico viveu entre os séculos X d.C. e XI d.C. Ele nasceu na região da Umbria e morreu em 22 de janeiro de 1031, em Soria. A foto mostra a imagem do santo sendo preparada para a procissão.

É mais uma das manifestações de religiosidade popular na Itália. E mais um costume romano também, o das procissões - foram os antigos romanos que a inventaram, e os católicos acabaram absorvendo o rito.

E acho também que é mais uma das maneiras na qual o paganismo sobreviveu, disfarçado na tradição cristã. Existe coisa mais pagã do que cultuar cobras, do que celebrar um animal, para que ele proteja a cidade as pessoas de enfermidades e do mallocchio?

De um jeito ou de outro, a serpente sempre coloca sua face para fora da toca...

Mais sobre a Procissão de San Domenico di Sora clicando aqui! (em inglês e italiano)

Texto do Tribos do mês

Eu acho esse texto super legal para quem está estudando Bruxaria Italiana... então a tradução que eu fiz do texto STREGHERIA E MAGIA VERNACULAR ITALIANA está postado no Tribos de Gaia =)

Leia o texto aqui!

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Encontro da Comunidade Bruxaria Italiana

Nos econtraremos no dia 20 de maio de 2007 no parque da Água Branca ao meio dia (12pm). O local exato ainda não foi definido. Faremos um piquenique para nos confraternizarmos e nos conhecermos.

Teremos etiquetas para garantir que todos verão e poderão lembrar dos nomes de todos. Levem um prato para compartilhar com os colegas. Levem também suas bebidas, mas NÃO ALCOÓLICAS, descartáveis ou seus copinhos e vasilhas. Também vale saquinhos de lixo ec angas para nos acomodarmos no chão.

Caso chova, amanheça chovendo ou a chuva caia torrencialmente em qualquer momento, nos encontraremos nas quadras de bocha, onde não molharemos nossos lindos dedões!

Dúvidas? Críticas? Nos deixem saber (blog, orkut, multiply ou bruxaraven@hotmail.com - msn da Inês).

As Organizadoras Organizentas e Orgânicas, Pietra, Sarah e Inês.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Dançando para os Deuses


A dança entrou na minha vida há seis anos, quando fui fazer o curso de Dança Cigana. Segundo minha professora, eu aprendi rápido. Em poucos meses, estava dançando - modéstia à parte - muito bem. Foi mais ou menos nessa época que comecei também na Bruxaria, e desde então as duas caminharam lado-a-lado.

Daquela época também ficou uma frase da bruxa com a qual comecei minha caminhada, mas que se distanciaria por uma série de fatores - que não vem ao caso agora: "sua ligação com a dança é muito forte. Você devia usá-la sempre nos seus rituais". E é o que faço.

Em muitos ritos ela serve para celebrar e canalizar energia. Ela própria se transformou, com o tempo, num pequeno rito. Depois que dominei os movimentos básicos, pude me concentrar na essência dos movimentos, na terra sob meus pés, na Lua sobre minha cabeça, no ar se movendo com meus braços e minha saia. Percebi que tudo isso é uma forma de canalizar energia e fazer magia. Talvez uma das maneiras mais primitivas e mais eficientes.

Hoje eu não danço com tanta freqüência. Coisas da vida me fizeram sair das aulas em 2003. Minha dança ficou restrita a poucas ocasiões. Mas continuam sendo uma das minhas maneiras de celebras os Deuses...
Foto de novembro de 2002.

terça-feira, 1 de maio de 2007

A Lenda da Velha Befana


Comprei da Livraria Cultura o livro "The Legend of Old Befana". Mais um adicionado à minha coleção do autor - o mesmo da Strega Nona.

O que eu gosto muito do Tomie é a preocupação que ele mostra com as lendas e o ideário folclórico da Itália.

A lenda da Befana é bastante explorada dentro da Bruxaria Italiana como mais um resquício da antiguidade clássica. Acredita-se que ela era uma deidade local da média Itália e que tinha um consorte e que sua éfique era queimada em símbolo de boa sorte e fortuna. Com o tempo e o fortalecimento das tradições cristãs, a Befana tornou-se uma boa velhinha que traz presentes para as crianças no Dia de Reis, 6 de janeiro.

O livro do Tomie dePaola traz uma das histórias da tradição cristã, contando como tudo isso começou. Mas ele nos ajuda a entender uma visão de mts anos.

A Itália, em seu vasto processo histórico, nos traz hoje uma rica fonte de histórias clássicas em releitura cristã. Fica por conta de cada praticante cavar mais fundo para ver essas raízes.