terça-feira, 30 de setembro de 2008

Série: o bom da lista do Yahoo!

Inês e eu pensamos que seria interessante dividir aqui no blog algumas conversas interessantes da lista de discussão do blog.

Então, eu fiz a MINHA primeira escolha. Umas perguntas que a Carol Yara fez há poucos dias na lista e que a Inês deu umas respostas muito em cima da pinta =)

A mensagem da Carol:
carolina_carvalho@> escreveu :
Queridas amigos e amados companheiros de Stregheria. Abro esse debate novo que provavelmente já não é novocoisíssima nenhuma, hahaha. Mas para mim é! Ainda me considero "bichete" em nossas práticas e, como "café-com-leite" acho que mereço uma colher de chá para resgatar um tema "mais do mesmos" assuntos de sempre.

A resposta da Inês:
*Paganismo e bruxaria é a mesma coisa?
*Não. Não são.

*Como distingüimos uma coisa da outra?
*Paganismo é o culto as divindades naturais pré-cristãs. Bruxariaé a prática de magia com elementos naturais. Infelizmente, é comum usar as duas palavras como sinônimos, mas o conceito é diferente.

*Existe bruxaria sem paganismo e vice-versa?
* Sim! Existem muitas mulheres e homens por aí que usam ervas, poções, benzimentos e outras coisas para curar ou conseguir coisas - ou seja, fazer magia com elementos naturais - e que não cultuam divindades pagãs. Como há pagãos que não fazem magia. As práticas podem ser atreladas, mas não é uma regra. O problema é que o povo comprou um discurso "wiccanizado", mal acabado e de fundamentação histórica duvidosa de que bruxaria e paganismo são a mesma coisa e derivam de um culto ancestral a uma deusa da fertilidade. Em consequência, as pessoas acham que para você ser bruxo tem que ser pagão e cultuar uma Deusa Mãe. Isso não é verdade. Nem todo pagão cultua uma única divindade feminina, como nem todos fazem magia.

*Assim como bruxos não pagãos ou pagãos não bruxos??
*O melhor exemplo de bruxos não pagãos são as benzedeiras. Ou pessoas como a minha mãe, que tem toda uma prática de magia e cartomancia e não cultua divindade nenhuma (só santo Antônio). Os reconstrucionistas helênicos são um exemplo de pagãos não bruxos, porque eles seguem as coisas bem certinhas da religião da Grécia Antiga e lá a magia era algo proibido e marginal.

*E as nomeclaturas? Bruxaria, feitiçaria, magia... é tudo a mesmacoisa ou tem diferenças??
* O Carlos Alberto Nogueira, professor da USP da cadeira de História Medieval, tem umas definições boas pra bruxaria e feitiçaria.
Pra ele, a bruxaria é uma prática rural coletiva, de atos para se garantira fertilidade. Muitas vezes ela tem um escopo religioso por trás, não necessariamente pagão.
A feitiçaria é uma prática de magia urbana e que não tem nenhuma relação com religião ou religiosidade. Sabe aquele lance "trago seu amor devolta em sete dias"? Então, essas seriam as feiticeiras...
Magia é, como diz o Aleister Crowley, a arte de fazer transformações de acordo com a vontade. Bruxaria é um sistema de magia. Há vários outros, como os sistemas usados pela Rosa-Cruz, ou pelo pessoal da Alta Magia. Como eu disse, acho as benzedeiras "um must" em matéria de bruxaria não-pagã. Elas sabem usar ervas, curar ou fazer adoecer, e para isso usam os santos e os anjos.
Na Sicília, tem uma tradição bem similar chamada de Benedicaria. É magia cristã, baseada em elementos naturais, mas que não tem nenhuma relação com os deuses pagãos. Eu comecei a me tocar de todas essas diferenças depois que li "Stregheria e Magia Vernacular: Uma Comparação" (Stregheria and VernacularMagic: A Comparision) da antropóloga Sabina Magliocco. Tem nos arquivos da lista e na parte da Pietra no Tribos de Gaia (www.tribosdegaia.org). Eu recomento 100% pra quem já tem uma noção de stregheria e bruxaria tradicional e quer se aprofundar.
Fora que eu quero ser que nem a profª Magliocco quando eu crescere largar o jornalismo!!! rs

Expliquei direito? Eu sou meio cri-cri com esses conceitos, sabe?Realmente me irrita ver as pessoas usando paganismo, bruxaria e magia como sinônimos, quando são conceitos diferentes que podem ou não vir aliados.

Eu sei que fui super acadêmica, mas uso essas definições no meu dia-a-dia... tanto que eu sou muito pagã e pouco bruxa.
Beijos!!
Inês

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Qual é o seu sabor?

Ultimamente numa lista de discussão do Yahoo sobre Stregheria - que se chama Traditional Stregheria - uma pessoa ia dar uma entrevista e queria saber de diferentes práticas de Bruxaria Italiana entre os praticantes. E a pergunta que ele usou me chamou muito a atenção: What is the flavor of your practice?

E, ai, as pessoas diziam nesta pergunta um pouco sobre como as suas filosofias de prática se davam, mais cristãs, mais pagãs, misturadas...

E eu achei isso muito interessante, pq as coisas acabam mesmo não sendo absolutas quando tratamos de Bruxaria Italiana - PRINCIPALMENTE no Brasil, que é sim um país que entende de misturas...

O sabor da minha prática é de azeite e azeitona... ou seja, o politeísmo grego (ou greco-romano, mas como eu gosto de chamar: helênico). Tem também um gosto de oregano... afinal de contas é a minha ancestralidade - uma parte do norte, outra, do sul. Minha prática tem sabor de vinho seco, dos ancestrais do norte que cuidavam de vinhas até a guerra estourar e eles virem para o Brasil. Tem ainda gosto de pão integral ou qualquer pão quente, pois a família de Roma quando aqui chegou, abriu uma padaria (padaria italiana!!!). Por fim, tem gosto de café, dos lavradores do interior que fizeram suas vidas... e graças a eles, aprendi sobre curas como ovos e panos brancos e como segurar tempestades.

Nossa. Dá até pra sentir o cheiro... e é coisa gostosa de Dioniso Baco! Evoé!

Para conhecer a lista Traditional Stregheria, clique aqui!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Pagãos no mundo virtual

Por conta de alguns projetos no meu trabalho, tenho passeado muito por um mundo virtual que os norte-americanos chamam de social media e que, aqui no Brasil, começa a ser conhecido como "mídia social".

A social media engloba esses meio de informação na Internet que podem ser feitos por qualquer pessoa, de qualquer lugar, falando o que quiser, e que tem uma interação super rapidinha com o leitor/internauta. Blogs, redes sociais (tipo Orkut, MySpace e Multiply), Twitter, MSN, wikis (tipo a Wikipedia ou a Desciclopedia) são exemplos desses sistemas.

Tanto lá fora quanto aqui, os pensadores e profissionais da comunicação começam a descobrir as possibilidades desse mundo virtual. Engraçado que eles só agora se tocaram de coisas que nós - pagãos, neopagãos, wiccanos e afins - já descobrimos há muito tempo: como se aproximar e formar uma rede de relacionamento só pela internet!

Vocês já perceberam como quase toda a comunicação da "comunidade neopagã" é feita por internet? Sites feitos por pessoas comuns, blogs e comunidades do Orkut são os grandes pontos de encontro de uma religiosidade que não tem templos. Além disso, há muita gente jovem, muitos adolescentes querendo conhecer mais do neopaganismo e aí entra a internet, um meio fácil, agil, barato e familiar de se conseguir informação.
Apesar de não usarmos todas as ferramentas que a social media proporciona, fazemos na internet o que muita gente nem imagina que seja possível. Quantas pessoas já não conhecemos nesse mundo e que se tornaram especiais em nossas vidas?

Eu recomendo 100% os blogs e outras ferramentas virtuais. É um jeito de expormos nossas idéias, de uma maneira meio marginal e sem a interferência de ninguém para podar o que queremos compartilhar. E acho que é a grande chance que temos de saber o que pessoas parecidas conosco fazem, mesmo de longe. Compartilhar, principalmente com quem não tem um grupo para apoiar ou não consegue ir num evento.

Ok, tem horas que cansa. Tem horas que a gente precisa do olho no olho. Mas aí a gente da logout e resolve a situação! Enquanto não cansamos, podemos aproveitar essa comunidade e descobrir os vários paganismos que estão pela net afora.
Para quem quiser entrar de vez nesse mundo, é só ir correndo pelos indicados do nosso blogroll, ou nas redes de indexação de blogs, como o BlogBlogs (aliás, estamos cadastradas lá!).

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Diana - um estudo

No começo do meu caminho, ouvia de outros praticantes que toda strega cultua Diana, e que isso é feito em grupos, geralmente familiares, que se baseiam em tradições super antigas. Há, inclusive, quem diga que esses grupos constituem um tipo de irmandade secreta, uma Sociedade de Diana, que se manteve através dos séculos, mesmo com a Inquisição e com todas as invasões, guerras e religiões que chegaram na Europa.

Mas aí, algumas coisas ocorreram na minha vida. Eu descobri que, na verdade, a deusa que guia meu caminho nesta vida é Deméter, uma divindade da terra profundamente ligada aos ciclos do Sol. E eu entendi porque, por mais que eu tentasse e cultuasse Diana, não me sentia ligada à sua energia.

Com esse processo todo de descoberta de Deméter em minha vida, passei a pesquisar mais sobre os deuses gregos, de uma maneira bem mais profunda. Juntando isso aos meus estudos da stregoneria e da religiosidade romana, li em algumas fontes - creio que na antropóloga Sabina Magliocco - que a Diana das streghe "modernas" é pouco citada em mitologias antigas. Ela é, na verdade, uma figura que começa a aparecer no folclore mediterrâneo na Idade Média, junto com sua filha, Aradia.

A hipótese mais aceita é que ela, na verdade, uma divindade latina pré-romana identificada com Ártemis por seus atributos de protetora da vida selvagem, das mulheres, dos partos e da caça. Vale ressaltar que, na Grécia, Ártemis não era tão identificada com a Lua e essa associação só ganhou força com os romanos. Seguindo nesse caminho, Diana também tem os atributos de "Bona Dea", denominação um tanto genérica usada pelos romanos para falar das deusas relacionadas à fertilidade da terra e das mulheres (como Ops, Ceres e Cibele).

A questão fundamental está aí: os deuses romanos/latinos assumem características dos gregos, mas há certas diferenças. Marte, por exemplo, é um deus de vegetação e poderio militar em Roma, enquanto na Grécia ele era um deus de carnificina e assassinato. Creio que, com Diana, o processo foi parecido: ela assumiu características da Ártemis grega, mas continuou com atributos de fertilidade que a outra deusa não poussuía, por ser uma das três divindades virginais do Olimpo.

Quando eu fui fazer esta pesquisa, achei que era meu momento de me "reconciliar" com Diana. Tentei entender seu papel nos cultos antigos, recapitulei o que eu sabia, o que eu ouvi de pessoas que a cultuam e somei tudo ao que me lembro dos livros do Charles Leland e do James Frazer - pesquisadores da bruxaria italiana e do culto de Diana, ambos do século XIX. Para mim, a deusa se mostra muito mais similar à Hécate Trívia do que à Ártemis. Ela tem os atributos lunares, férteis e mágicos da Trívia, em especial na sua forma de Mãe. Mas há, também, a liberdade da Donzela. E, porque não, o conhecimento e sabedoria da Anciã. [já havia colocado algo nessa linha no post Trívia e Diana]

Há, ainda, muitas streghe que cultuam Diana. Elas a tem como a rainha da natureza e das bruxas, consorte de Lúcifer/Dianus/Apollo Lucifero, deus da luz e do Sol. Pelos mitos registrados no livro "Aradia - Il Vagello delle streghe" ("Aradia - o evangelho das bruxas", de Charles Lelland), os dois teriam uma filha chamada Aradia, que desceu à terra, como sacerdotisa e strega, e ensinou aos oprimidos - se pensarmos no contexto medieval do mito, mulheres e serviçais - a magia e o culto à Diana. Com isso, eles se libertariam da opressão sofrida. Dizem que esses ensinamentos perduraram entre famílias e grupos, organizados como sociedades secretas, desde a Idade Média até hoje, e que alguns clãs praticantes da stregoneria - dentro de um contexto pagão - conservam esses ensinamentos.

Ela continua sendo identificada com a Lua, com a natureza indomada, com a vida selvagem, os nascimentos, a colheita e a fertilidade das mulheres. E é cultuada nas Luas Cheias.

Dicas de sites:

- Blog de uma strega que cultua Diana: Diana's Muse - http://www.dianasmuse.blogspot.com/
- Site do Raven Grimassi, sacerdote de uma tradição que cultua Diana - http://www.stregheria.com/
Imagens:

1- uma escultura em Baltimore, EUA, do Flickr
http://www.flickr.com/photos/50325108@N00/1365705535/
2 - uma imagem "streghe" de Diana como deusa da fertilidade
http://www.newprophecy.net/Diana_goddess_1.jpg
3 - ilustração de Aradia, filha de Diana e Lúciferhttp://caldeiraodeceridwen.sites.uol.com.br/aradia.jpg

Fiz esse texto para um grupo virtual em que participo, para um estudo de deusas lunares. Achei que tinha há ver com nosso tema aqui e talvez possa gerar algumas trocas interessantes.

domingo, 14 de setembro de 2008

Streghe que são streghe sem saber


Foi numa conversa esta semana que eu tive a confirmação de uma coisa que eu imaginava que acontecia, mas não tinha certeza... Das pessoas que são iniciadas sem muita certeza ou sem saber que o são. E não por ignorância pessoal, mas pelo andar d carruagem, das coisas acontecerem como tem de acontecer.

Iniciações sempre são um assunto controverso. Quando eu penso nisso, eu sempre penso na frase do Roberto Calasso, "iniciado é aquele que viu". E a pessoa com a qual eu conversei, viu.

A questão dessa pessoa que passou por isso é que ela recebeu um grande presente. E o recebeu das mãos de Saturno, o Grande Mestre, que mostrou com o tempo como abrir este presente. Tanto que ela o está fazendo agora. Talvez porque não tivesse o que fazer com isso antes, talvez porque precisasse que acontecesse naquele momento, pois não aconteceria em outro momento.

Uma coisa é muito certa. Os Deuses sabem o que fazem. E se o fizeram assim para ela, é pq tinha que ser assim... e tinhamos que ser nós que a ajudaríamos a soltar os laços desse pacote. E que agora é o momento.

Em muitas famiglias, isso acontece... pessoas inciadas muito novas por suas avós que sabiam que não teriam muito tempo por aqui. Coisa de Strega Nona mesmo (história no podcast ep. 2).

Bem vinda, amiga... tenho certeza que os Deuses te encaminharão da melhor forma possível.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Award!

We were indicated by Diana Luciano Grayfox from the blog Diana's Muse to this award.

So, as a part of the award rules, we have made our indications. Some of the blogs we chose are Brazilian, like ours, but some are from far away, but very true as a part of our affection and admiration.

We thank Diana a lot, it was very honorable to us!

Our selection is:
- 78 Notes do Self: written by Ginny Hunt, whose ideas about tarot are very inspirated - she also carries some episodes of a podcast and take some participation on Tarot Connection podcast.
- Arbor Reality: a blog about trees and how they can be a part of our spirituality. It is very well written and the material is very interesting.
- Gaian Tarot: blog by Joanna Powell, who has been building a wonderful tarot deck called The Gaian Tarot - a must see and Filhote de Lua's favorite!
- Green Womyn: blog by Dani Sales, who writes about herbal magick. This one is Brazilian!
- Iberia Aeterna: kept by our friend Everson, who studies magick and witchcraft based on the Iberic cultures and traditions. In Portuguese.
- Irmandade da Panela de Barro: by our friends from Espírito Santo. They talk about Paganism in a non-fluffy bunny way.
- Tarot Connections: podcast blog about tarot, with amazing episodes talking about everything Tarot (Pietra's must visit!).

To you all, thanks a lot and hope to hear from you!
Inês Raven, Pietra di Chiaro e Sarah Filhote de Lua.

Um prêmio!

Mais um selo para nosso blog!

A Diana, nossa amiga strega do Diana's Muse, indicou o Stregheria Pratica e ganhamos este selo:


Agradecemos muito à Diana por essa indicação! Estamos muito felizes de receber esse tipo de reconhecimento! É maravilhoso ter a oportunidade de dividir e trocar nossas experiências com gente do mundo todo!

Em retribuição, e seguindo a regra da premiação, seguem as nossas sete indicações:

- 78 Notes do Self: escrito pela taróloga Ginny Hunt, que tem uma visão muito legal e real dos arcanos.

- Arbor Reality: um blog sobre árvores e sobre como elas podem fazer parte da nossa espiritualidade. Muito bem cuidado, tem material bem interessante.

- Gaian Tarot: blog da Joanna Powell, que está construindo um deck lindíssimo centrado na espiritualidade da terra.

- Green Womyn: blog sobre herbalismo mágico da Dani Sales, com muito material legal e em português!

- Iberia Aeterna: mantido pelo Everson, bruxo com raízes Ibéricas e que faz um trabalho muito sério e cheio de conhecimento e informação.

- Irmandade da Panela de Barro: alguns amigos do Espírito Santo que falam de paganismo sem frescura.

- Tarot Connections: blog do podcast sobre tarot, com excelentes programas, que tratam dos mais variados aspectos do tarot.

São blogs que nós três lemos, gostamos e recomendamos. Vale a pena visitar!

Um muito obrigada e um beijo,

Inês Raven, Pietra di Chiaro e Sarah Filhote de Lua.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Trívia e Diana

O Fernando, companheiro e amigo de listas e comunidades há uns anos, enviou uma dica muito legal na lista do Stregheria Pratica. Ele nos mandou o link de uma revista acadêmica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) chamada Calíope que tem alguns artigos bem legais. O que eu gostei foi "Elementos Religiosos nas Elegias de Tíbulo", da professora Zelia de Almeida Cardoso.

O foco do texto é sobre os símbolos e objetos que os romanos usavam para proteger suas casas, descobertos pela historiadora a partir de pesquisas e análises das evocações do poeta latino Tíbulo.
Os deuses citados no artigo como protetores são Priapo, Janus, Terminus, Ceres, Apolo e a Trívia - que, na verdade, é a versão "romanizada" de Hécate.

Um dos trechos que achei bem interessante e super há ver com a coisa toda da stregoneria é o trecho em que a autora relaciona a Trívia com Diana:
"(...) Quanto a Trívia, não podemos deixar de mencioná-la com certo destaque. Figura polivalente, deusa triforme (dea triformis)41, patrona da feitiçaria e das práticas mágicas, invocada nas doenças, dado o seu poder de curá-las, Trívia apresenta características nitidamente apotropaicas. Segundo Plessis e Lejay42, Trivia é um dos epítetos de Hécate, a “deusa dos espectros e dos espíritos”, que “pertence à religião popular e não figura no brilhante Olimpo das epopéias homéricas”. Sua verdadeira fisionomia só aparece depois do século V a.C., na Grécia, e sua natureza a associa, no culto e na literatura, a Ártemis/Diana, também considerada como hécate (do grego hekáte), “a que atira longe seus dardos”.

Ártemis caçadora se assemelha, portanto, a Hécate e, em Roma, as duas deusas, embora cada uma guarde algumas características específicas43, acabam por fundir-se numa mesma divindade. São muito numerosos os textos literários latinos que documentam essa fusão. Na Eneida44, Virgílio emprega a expressão tria uirginis ora Dianae (“os três rostos da virgem Diana”) como aposto de Hécate; em duas passagens, referindose à Sibila de Cumas e ao templo de Apolo, associa Trívia a Febo45, identificando-a com Diana; refere-se aos bosques de Diana, em Nemi, como “bosques de Trívia” ou “bosques de Hécate”46 e ao lago de Diana, perto
do qual havia um templo consagrado à deusa, como “lago de Trívia”47. Propércio48 e, mais tarde, Sêneca49 também procedem à assimilação das duas divindades (...)"

Eu tenho uma teoria - meio pretensioso dizer isso, mas não achei termo melhor -, de que Diana, numa correspondência com os deuses gregos, teria mais relação com Hékate do que com Ártemis. Foi bem interessante esse respaldo científico - mostra que não é esquizofrenia...

Fica a sugestão para pensar e debater. E trocarmos impressões sobre a associação das divindades gregas e romanas.

O link para ler o artigo todo está em http://www.letras.ufrj.br/pgclassicas/caliope12.pdf. É só correr o arquivo até a página 93.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Palestra sobre instrumentos de cozinha e seus significados


Neste sábado último, participei de mais uma tarde de palestras no Viver Alternativo.

A palestra foi sobre objetos de cozinha e como eles podem ser resignificados para o nosso fazer mágicko e como isso poderia ser visto e feito de formas diferentes. Porque as pessoas têm crenças diferentes e podem achar que misturar as coisas é disperdiçar energias, mas outras podem achar que estão fortalecendo a egrégora da família.

Ou seja, muitas pessoas, muitos jeitos.

O meu enfoque foi que, no tempo histórico de nossos ancestrais, objetos usados para bênçãos, cozidos mágicos como ungentos, temperos, chás, banhos, etc. eram feitos nos mesmos objetos que eram usados pela família. Assim, a mesma faca que cortava o pão, poderia ser a faca que trazia a cura do mallocchio... ou o mesmo prato que carregava uma oferenda para Ceres, poderia ser o prato de sopa do dia seguinte.

E seguimos nesta discussão, pensando em significados dos lugares e objetos... e como Héstia poderia morar no fogão hoje em dia e Deméter pode ter uma participação na geladeira, pois ali se mantém parte do nosso sustento e nossas frutas e verduras ficam fresquinhas.

Falamos de xícaras e como elas seguram os líquidos, tão emocionais e importantes, como o café para a socialização das pessoas e o copo com água com açúcar.

Um dos tópicos que conversamos e mais gostei foi: panelas e caldeirões, com tampa ou sem tampa? Nesta hora até fechei o micro (onde estavam as fotos da minha cozinha) e abri um fórum para conversarmos. Chegamos a conclusões interessantes:
- tampas podem ser importantes para dar um tempo de cozimento especial.
- tampas podem ser importantes para esconderem o que estamos cozinhando.
- tampas podem ser importantes para não permitir que coisas que não prestam caiam em nossos cozidos.
- tampas podem ser dispensáveis quando queremos que o que estamos cozinhando se espalhe...

Assim, voltamos ao começo da conversa, como tudo é uma questão de significado e entendimento.

Como vc usa as coisas da sua cozinha num âmbito mágicko?