quarta-feira, 29 de junho de 2011

Um dia para a lua nova

Depois de passar esse tempo pensando em ancestralidade e buscando vivências diferentes, hj eu recebi um mail que me fez pensar numa outra coisa, que é bem importante e que já foi abordada aqui no blog algumas vezes... mas que sempre vale ser falada. O Lararium.

O Altar aos Ancestrais é uma prática curiosa no sentido de que aparece em várias culturas... dos romanos aos celtas... fotos da família em casa... a vontade de registrar e, principalmente de não deixar esquecer.

Olhar para a ancestralidade, seja ela do local, de prática ou de sangue é sempre uma lembrança para que tenhamos sempre em mente o que somos e o que podemos. Quero dizer, se somos parte de uma coisa maior que a gente, uma terra, uma espiritualidade, olhar para os pequenos pedaços que são nossos ancestrais, nos ajuda no sentimento de pertença.

Então, o que vai ali, naquele cantinho sagrado da ancestralidade?
De um, tudo!
Algumas pessoas - como eu - tem um pequeno símbolo dos Lare, os deuses romanos da casa. Outras possibilidades são pequenos pertences de seus avós, bisavós, pais etc... uma vela que sempre queima... Eu tenho uma tesoura que nos ajuda a cortar o mal olhado... eu tenho símbolo dos meus Deuses... e do que a minha família significa. Afrodite na pele de Nossa Senhora Aparecida... Dourada... Ares/Marte na pele de São Jorge... Louro, turmalina... e outras cositas más.

E os visite. Converse com eles... Os nossos ancestrais sempre tem uma orientação, uma dica... afinal, eles já passaram por isso antes. Certeza!

Um ótimo novo mês para nós!
Pietra

terça-feira, 28 de junho de 2011

Celebrar Afrodite

Amanhã, dia 29 de junho de 2011, no Faces da Lua, vamos celebrar Afrodite.

Será um encontro para conhecer seus mitos, histórias e a natureza dessa Deusa tão celebrada.


Traga suas oferendas e vamos nos sentar, conversar e nos harmonizar com a Beleza.

Onde? Espaço Faces da Lua
Rua Colônia da Glória, 414
tel: 11 2306-1751
http://www.facesdalua.com.br
às 20hs.

Coordenação: Pietra di Chiaro Luna

Quase na lua nova

Vivemos quase um mês com a nossa ancestralidade...

Aprendemos... pesquisamos... pensamos...

O que vc aprendeu esses dias?

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Cães e ancestrais

Matilda, cã de Marcos e Pietra.
Marcos é xamã... e com seus estudos, trabalha a cultura e a divindade celta. Isso faz parte da minha vida agora. Não que eu venha mudar a minha espiritualidade per se, mas quando se vive ao lado de quem trilha um caminho, vc o percebe também.  E nós aqui, streghe,  também poderíamos fazê-lo uma vez que os celtas moravam, entre outros locais, no norte da Itália... E os celtas acabam fazendo uma parte da nossa ancestralidade, como descendente de ítalos. E um ponto que eu gosto muito das histórias que eu ouço sempre é a de Cuchulainn, o cão de Cullain.

É uma história irlandesa de um herói, filho do deus Lugh, bastante jovem que mata o feroz cão do rei Cullain. E, ao perceber a besteira que tinha feito, decide SER o cão do rei até que outro animal possa ser treinado.

E Cuchullain se torna um grande herói... pelo que eu vi e entendi, me atreveria a dizer quase um Aquiles irlandês... inclusive com o toque de controvérsias com os deuses... Enfim... Deuses, heróis e animais... é a nossa alma... animal... nosso ser.

E há quanto tempo os cães não estão conosco. E tal qual Cuchullain com fidelidade e amizade?
O quanto os cães não estão com nossos ancestrais fazendo valer diferentes histórias? Algumas mais tristes, outras bem alegres. Mas eles estão lá.

Quem não se lembra de um nome de cachorro da família? Da avó? Dos tios? Minha avó e meu pai tinham o Lobo, que era um vira-lata que tinha medo de trovão e roubava bala do criado-mudo da minha avó. Ele morreu logo que eu nasci... e foi enterrado na casa de Caraguá.

Eu e Marcos temos a Matilda. E tenho certeza que a Matilda já está marcada na história da família... um ancestral cão quando for a hora. Matilda é engraçada, feliz... e dedicada. Sim... Matilda vem nos saudar, vem nos lamber, morder e brincar, nem que seja de madrugada. Matilda quer nos agradar porque estamos com ela em casa... e a pegamos pequeninha... toda pretinha...

Matilda, como uma boa parte dos cães, tem em si essa lealdade que muita gente não tem. Matilda tem esse astral que muita gente não tem. Matilda é feliz e adora visita. Tem horas que eu não tenho muita certeza se ela sabe que é cachorro, pq tem 2 irmãos gatos. Mas o seu instinto está lá... de brincar, de correr, de fazer festa. E de ser leal. Matilda nos ama sem perguntar por quê.

E assim, os nossos ancestrais e seus cães seguiram o caminho... em estradas ou em templos; em caças ou pescas; em casa ou na rua.

Cães são animais que acompanham os homens por muitos anos. Assim foi e será. E como todas as famílias, teremos histórias de cachorro para contar e com algumas, como a do herói Cuchulainn que aprende sua lição de fidelidade, aprendemos as nossas.

Pietra,
mãe da Matilda, do Xico e da Luna.

terça-feira, 21 de junho de 2011

E quem também vem vivendo sua ancestralidade

Segue o texto da Nath Hera, strega, na Itália, falando de ancestralidade.

Leia no Taranta da Hera!

sábado, 18 de junho de 2011

Uma tão feliz senhora


E se nós formos lembranças de nossos ancestrais?
Ouroborus, de Estela Cassilatti

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Lua e Ancestralidade

Desde que eu comecei a estudar Bruxaria Italiana, a coisa da lua cheia me chama atenção. No meu caso, acho que foi um trechinho que eu peguei de um livro do Raven Grimassi que me marcou muito e que fez a coisa ter muito sentido... É o que eu falo... minha prática não é ligada a Stregheria do Grimassi, mas, uma das muitas coisas que ele coloca, para mim, acabou fazendo sentido... vai saber.
 
O ponto é que a lua cheia é dada como um encontro. Eu me lembro que nesse livro que eu li, dizia que na Lua Cheia, os espíritos ancestrais faziam aquele brilho ser sua reunião e que dali, desciam para a terra para fazer-se "re-encarnar" ou renascer entre nós, como mais uma parte de nossas famílias. Pois bem, não bate exatamente com o que eu penso sobre morte e renascimento etc e tal, mas não deixa de fazer um certo sentido, uma vez que nas luas cheias, tanto as maternidades quanto os necrotérios lotam - experiência pessoal.
 
Assim, quando ligamos a lua cheia à vida e à morte, estamos fazendo dela um ponto focal de nosso ciclo... de nascer e viver... e de viver e morrer... A Lua pode concentrar todo esse fascínio porque ela está lá, linda, pregada no céu... Olhando para nós, todos os dias de nossas vidas. E poucas coisas tem essa perenidade, num mundo de tantas mudanças.
 
A Lua Cheia, que é cheia para nós hoje, foi cheia para nossos avós e bisavós e para os primeiros habitantes de Mantova ou de Delfos. Ela esteve com essas pessoas e, certeza, que ouviu clamores, suspiros, orações, pedidos... e testemunhou encontros, estudos, caças e cenas e cenas de amor.
 
É a lua cheia que sobe pelos seus e pode ser hoje vista por janelas ou que ilumina num raio azulado nossos quintais que está sobre nossas cabeças... e estará sobre as novas gerações e que, queiram os Deuses, será sempre Luna e Selene e que inspirará o amor, a magia e a reunião entre famílias e ancestrais.

Pietra

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Por que matamos os espíritos que acompanham nossa ancestralidade?

Hoje, durante uma aula de língua portuguesa que assisti, ouvi umas coisas que me deixaram meio preocupada...
Como uma das unidades que se estuda na escola - que é importante dizer, é confessional, ou seja, de cunho religioso declarado - é sobre folclore. E conhecer o folclore é conhecer todas as nossas grandes tradições - incluindo algumas menores que são bem regionais mesmo.
 
E hoje era dia do Saci... e eu confesso, tenho medo de saci... coisa de trickster mesmo...
 
Bom, o ponto é que a professora dizia aos alunos: existe Curupira?
Existe saci? Precisa ter medo? Mesmo se for no mato?... e eu morrendo do lado...
 
O Saci é uma das histórias do Monteiro Lobato e nessa, o próprio saci tem um diálogo com Pedrinho dizendo a ele que monstros existem e não existem, dado a quem acredita neles. E comenta ainda que nos mitos dos povos antigos existiam muitos monstros, porque os povos acreditavam neles... tal qual o saci, que conversava com o menino.
 
O que eu fiquei pensando: será que em nome de matar o "medo" podemos "matar" esses espíritos, essas marcas de ancestralidade da nossa terra? Quero dizer, em nome de não deixar as crianças de uma religiosidade que não é a nossa, podemos simplesmente dizer que tal e qual não existe? Eles não vivem na mesma terra que nós?
 
Por que não enxergamos, não existe? Não existe ar, então...
 
Eu fico pensando tanto na fantasia... quanto nesses espíritos, como o Saci, o Curupira e mesmo a Mula-Sem-Cabeçca (toc toc toc) que estão vivos em nossa tradição e cultura, quanto em todo o direito de imaginar e mesmo, de ter medo, pode ser tirado?
 
Não quero mesmo que as crianças se apavorem... mas que conheçam... que as coisas sejam colocadas em seus lugares.
 
Quando contei a história de um leprechaun, meus alunos foram na hora: isso existe? E eu sempre respondo: os irlandeses acreditam... E eles: e vc? Eu sempre acredito, pois se os povos acreditam, quem sou eu...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Construções e identidade

Pensando em ancestralidade de local e de sangue, fiquei pensando no que é um registro físico dessa identidade ancestral. E me deparei com construções. Incrível como existem construções milenares, ainda em pé, que mostram muito claramente quem é um povo, ou qual foi a cultura de um grupo de pessoas e como podemos nos identificar com elas.
 
Eu penso, no meu caso, em Delfos e em como aquelas ruínas ainda falam. Eu imagino poder colocar o pé naquele lugar e sentir o que se sentiu um dia, e estar onde as pítias puderam estar e dividir aquela terra com tantas outras como eu, por algumas horas. Eu imagino que isso deve ser catártico.
 
Penso também na oportunidade que eu tive de ir para Chitchen Itzá, no México e estar naqelas ruínas relifiosas de centenas de anos, e, embora minha ancestralidade não relacione-se diretamente com os astecas, com eles e estando naquele lugar, aprendi muito sobre um olhar muito mais divino da morte e como estar entre povos indígenas nos mostram coisas importantes sobre a Natureza e como viver com a Criação que nos cerca.
 
Por fim, eu fico pensando nos legados que se mostram por construções. O que podemos falar de São Paulo frente a grande mudança arquitetônica que ela passa? O centro mostra História e me faz pensar sempre que vou ali em José de Anchieta com os índios e São Paulo nascendo... e fico pensando nos meus bisavós andando naquelas ruas e talvez usando aqueles prédios... É disso que somos feitos... de passos e de estadas...
Pietra

sexta-feira, 10 de junho de 2011

De envelhecer

Venho pensando nisso esses dias...

Meus avós morreram bem velhinhos. E eu ainda tenho uma avó... porém, eu sei, que alguns dos meus ancestrais não morreram tão velhinhos. Quero dizer, nem sempre nossos ancestrais chegaram a velhice.
E nisso eu fico pensando no tanto de sabedoria, prática e como passavam seus conhecimentos.

Acho que tivemos sorte. Quem aprendeu de sua família, teve sorte... algumas coisas se mantém apenas assim... Porém,  quantas streghe não foram iniciadas por avós, tias ou madrastas muito jovens, sem muita condição de lidar com a coisa simplesmente porque o conhecimento, o veio mágico tinha de ser passado?

E que pulso e comprometimento precisam essas bruxas terem para fazerem seus caminhos acontecerem, dado que muito se deu quando eram tão novas?

E como nós, hoje, temos de nos preparar para passar nosso ofício um dia? Como fazer compreender nossa espiritualidade? Afinal, se alguns de nós romperam com suas famílias, o que impede dos nossos romperem conosco?
E se a magia pula uma geração? Algumas dessas bruxas iniciadas prematuramente aconteceu justamente por isso...

Bom, ficam aqui os pensamentos... e penso que uma das boas coisas que podemos fazer é escrever... registrar... e nos deixar saber quem somos... e um dia, fomos!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Lembrança de infância

Quando eu era pequena, antes de dormir, minha avó me fazia chá. Geralmente, de hortelã... geralmente, com bolacha e manteiga.

Nesse frio é impossível não pensar nisso... no quentinho do chá, com o geladinho do hortelã... E tenho tomado muito chá a noite... pelo sabor, pelo calor...

Que saudades do hortelã da minha avó.

Aqui em casa, o hortelã que ganhamos de uns amigos, está crescendo... e tomando seu lugar. Ontem, coloquei umas folhinhas no chá branco que fiz.

Qual é a bebida mais mágica da sua infância?
Pietra

terça-feira, 7 de junho de 2011

Ancestralidade e educação

Hoje eu estou com meu foco de ancestralidade com uma coisa que eu precisei fazer... trabalho de pós-graduação. Precisamente, um escrito sobre poesia épica.

O que é interessante sobre a poesia épica é que ela começou lá na Grécia, mas se encontra no mundo todo, a todos os tempos. E que a grande coisa dela é seu inicio pela oralidade. Pela falta de registro. Os aedos, os poetas, as tinham de cabeça e não as liam, cantavam. E a poesia, mais do que hoje, era um fonte de entretenimento e, claro, de História.

Através das epopeias, nossos ancestrais falavam dos grandes feitos de seus povos, de seus ancestrais.

Infelizmente, em muito tempo, não tinhamos papel e não havia registro. E ainda mais, quem conseguia ler?

Bom, o tempo passou e até estamos aqui, escrevendo, registrando num meio que nem mais é o papel e que pode ser lido em muitos suportes.

Aprender a ler e escrever é uma coisa relativamente moderna... para mulheres, ainda... vixi... Mas estamos aqui. Falando de grandes poetas... Pessoa, Keats, Byron, Bandeira, Quintana, Homero... Escrevendo sobre o que os nossos muitos ancestrais já sabiam. De palavra cantada, com lira e alaúde, de grandes feitos de seus ancestrais, de tudo aquilo que nos fez sair de Troia e chegar a São Caetano, escrevendo num computador.

Canta, ó, Musa!
Louvadas sejam!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Ancestralidade e cozinha

Ahhhh... é hoje o dia!

Vou fazer uma comida... não uma que é tradicional de casa, mas que eu vou usar uma coisa muito importante: a panela da minha avó.

Essa panela é grande... bem alta... e nela tanta coisa foi feita... feijoada, canja de almoço de Natal, molho de polenta.

Por agora, já fizemos banhos, vinho de jurema.

Agora, somos uma família aqui nessa casa e a minha herança se tornou nossa... e com a panela da minha avó tantas coisas são cozidas juntas. Coisas do que faz uma nova família... coisas que se somam com o tempo.

A isso, brindo!

domingo, 5 de junho de 2011

Ancestralidade e comunicação

Eu sei, eu sei... Eu estou atrasada com o posting. E por isso eu estou escrevendo aqui e pensando de como algumas atividades nos tomam. E por elas, não consegui bater meu texto. Fato é que, nem sempre conseguimos manter a nossa rotina tal e qual todos os dias. Mas, agora. Estou escrevendo um texto do celular.

E estou aqui pensando: e nossos ancestrais? Como faziam? Pois tb tinham questões de tempo e rotina, mas não tinham 3G.

Fico pensando em tempo. No quanto mt gente tinha de esperar dias... Por um telefonema e confiar naquilo, de que estava mesmo tudo bem. Mais pra trás ainda, de como tínhamos de confiar em missivas. Ou em cartas ou em recados.

Como precisamos ser pessoas menos ansiosas e mais calmas. E precisamos dar mais conta dos nossos sentimentos.

E é nessas horas que eu penso: que meus ancestrais me ajudem a me conter e a me fazer entender, via web, via letra ou pela voz.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Ancestrais de prática

Antes de tudo, uma strega é uma mulher sábia, uma curadora... de si e dos seus.

Hoje ou ainda hoje, quando chamamos uma mulher de bruxa, ou de strega, corremos um risco de causar um certo mal-estar, uma vez que, meus ancestrais de sangue vem de uma terra na qual fica o Vaticano.
Ser bruxa, carregar esse título é uma coisa que nossos filhos e netos e talvez bisnetos utilizem com o bom sentido que acreditamos e sentimos... até lá, somos talvez as primeiras que "curtam"  essa coisa toda.
O fato é que existimos e faz tempo. E aí estão nossas ancestrais de prática. Tanto daquelas que conheciam suas cidades, comunidades e ancestrais - sim, porque não? Porquê, afinal, muitas tradições são mantidas assim.
Casa de bruxa
http://norke.deviantart.com/
Tanto as sacerdotisas dos Deuses que hoje cultuamos e que nos ensinam como fazer esse trabalho, compartindo seu conhecimento espiritualmente na lua cheia, quanto as que conheciam as mesmas ervas que nós.
O que eu vejo, em muitos casos, tanto gregos quanto romanos, diferente dos etruscos, por exemplo, é que as mulheres sábias e curadoras, nem sempre eram as mesmas que as sacerdotisas dos nossos muitos Deuses. Já entre os etruscos, os auguri eram tanto curadores quanto sacerdotes.
Eu sinto sim uma diferença em termos de trabalho com a minha ancestralidade. Na minha família, é passado um trabalho de cura espiritual, que foi passado por quem o exercia antes de mim. Fato é que meus ancestrais que ensinaram isso não eram pagãos e não cultuavam os deuses como eu.
No caso do culto aos deuses, me sinto próxima às antigas Pítias e seu trabalho de oráculo em Delfos e peço a elas e Apollo que me inspirem quando vou fazer meu trabalho de oráculo.
E entre esses dois caminhos, estão todos os outros que, ao longo do tempo, rezaram a tantos deuses e santos e que fizeram o seu melhor pela saúde de suas comunidades. É aqui que estamos hoje, como streghe do séc. XXI.

Pietra

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Ancestrais do local, da terra e tudo junto

Igreja Matriz. São Caetano do Sul, SP.
Neste trabalho com os ancestrais a ideia é melhorar a nossa percepção, pois se somos parte de nossos ancestrais, acabamos deixar algumas coisas rolarem por si só e não damos atenção ao que são.

E quero começar com a minha cidade. Aqui temos tanto os ancestrais do local, quanto os de sangue.

São Caetano do Sul é uma cidade pequena, 14km², no ABC paulista e, em alguns lugares, mal sabemos onde a cidade termina e começa a metrópole. É um local de bom IDHU (Índice de Desenvolvimento Humano) e, a maioria dos serviços básicos é bem servido: temos hospitais, escolas, clubes da terceira idade e parecem que as coisas funcionam. E, na minha opinião, o mais legal: São Caetano é muito como uma cidade de interior. Tem praça... tem igreja na praça... tem ruas desertas às 10 da noite... não temos área rural, porém.

E foi aqui que meus avós (todos) resolveram fazer a vida - em um momento ou outro. Ou seja, nasci aqui e, embora muitos da minha família não o tenham, morreram aqui. Resumindo, a nossa família é parte da cidade. O ancestral local se tornou parte do ancestral de sangue. Temos ruas com nossos sobrenomes e pessoas que nos conhecem e que conhecemos desde sempre.  Meu avô trabalhava numa metalúrgica que hoje é hipermercado. O outro, num banco... que só mudou de nome... o banco em si, continua lá. A casa onde meus avós criaram meu pai, está meio mexida. Mas na frente dela ainda tem feira. Na casa onde minha mãe cresceu, temos uma loja de sapatos. Parece certo. Minha mãe adora sapatos. E a cidade muda... como nós.

Assim, eu me orgulho de ser sul-sancaetanense. Sabe quando vc se sente parte daquela estrutura toda? De gostar de andar o centro da cidade... de olhar coisas e dizer: nossa, isso é novo pq aqui era...

Minha avó me contou uma boa história outro dia. Que o prédio que está na frente do meu prédio era um casarão dos Matarazzo... e que quando ela era mais nova - bem mais nova - as pessoas passavam tentando olhar lá dentro para saber como era. Até eu fiquei curiosa de saber como era. =)

Eu moro hoje no mesmo bairro no qual nasci. Eu vivi minha vida toda aqui... sei o hino da cidade. Sei onde ficam as coisas e como elas funcionam. São Caetano do Sul é o que, em inglês, chamamos de home town - cidade lar. É de onde eu vim... é onde eu vivo... A cidade é parte da minha identidade.

Minha percepção é andar no centro e pensar: o quanto será que eles não passaram por aqui? Não fizeram coisas? Encontraram amigos...

Qual a relação que você tem com a sua cidade? Ela também foi dos seus ancestrais?

Pietra

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Agradando aos ancestrais

Eu estava com esse texto engatilhado quando surgiu a proposta do desafio pela Pietra. Então, fica aqui meu texto como mais um ponto de vista dentro do assunto...
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Sábado. Correndo antes de sair para o salão onde estava acontecendo a festa de aniversário do meu filho (tinha ido buscar umas coisinhas esquecidas ara trás). Parei diante do altar dos ancestrais. Desejei tanto que eles estivessem conosco para compartilhar nossa alegria... voltando para o quarto, peguei uma vela colorida e bonita que tinha comprado sem saber bem para o que ia usar, e acendi. Fiz uma breve oração pensando nos ancestrais que não chegaram a conviver com meu pequeno e especialmente com aqueles que conviveram com ele, ainda que de forma breve. Acendi a vela, e sorri.

Em minha memória, se empilham momentos assim. Uma coisa que aprendi sobre honrar e celebrar os ancestrais é que independente de religião, algumas coisas são quase sempre presentes:

* Uma forte sensação de que mesmo mortos, ainda somos parte da mesma família. Nossos ancestrais, nossos mortos, dividem conosco uma história, e são presentes em nossas vidas - como um dia nós seremos na vida de outras gerações.

*Comer é uma atividade que nos lembra quem somos, e por consequência, quem são nossos ancestrais. Festejar ou fazer um mero almoço cotidiano são igualmente momentos em que nossos mortos queridos podem ser lembrados. Comida é a oferta mais comum aos ancestrais, em todo o mundo.

*Contar histórias, olhar fotografias, ouvir nossos velhos e ensinar o que descobrimos aos que se interessarem em ouvir, é tão importante quanto rezas e rituais. De certa forma, isso são rituais.

Meu altar dos ancestrais é o que minha avó chamaria de barafunda. Nele se misturam devoções e lembranças para os ancestrais da família, os espíritos do caminho que trilho, do lugar onde moro, para os lares e outras deidades domésticas. Ao que parece, as medalhinhas de santos católicos e as imagens de Lares romanos parecem conviver bem, e eu tento ser "ecumênica" quando diante daquele altar. Ali, não importa os deuses que eu cultuo ou o deus da minha avó. Ali, as coisas são entre nós, entre os espíritos e eu. É uma conversa de cozinha, de pé do fogo.

Existem sim festivais em que a coisa é entre eu, os deuses e os mortos. Mas ai é outra conversa. Um, porque não se trata de um ancestral específico, e outro, que as vezes pedimos aos deuses por pessoas que são de outras fés, sem ofensa alguma e com todo o respeito por essas pessoas.

Mas no dia a dia, fora desses festivais ou excessões, o meu culto aos ancestrais, minha devoção a eles, se dá com comidinhas oferecidas, um café, uma cantiga relembrada. Uma velinha ou um incenso gostoso, e uma sensação quase infantil de poder pedir colo para a avó. Sempre que tem um evento importante na família, que alguém nasceu, morreu, fez aniversário, se formou, arranjou namorado, casou, parar ali para lembra-los, acender uma vela, ou dividir um cupcake, para que eles façam parte daquele momento.

Sempre, é essa sensação de dizer a eles: "Vocês fazem parte da minha vida, de quem eu sou hoje e eu sou grata por isso."

Quando eu canto A Estrela Dalva pro meu filho ou quando faço mingau de maizena, quando aprendo a me pentear como minha bisa ou converso sobre o passado da minha cidade, eu gosto de deixar uma ofertinha para os ancestrais, os meus, os deste lugar. Porque é bom. Não é uma obrigação. É um prazer de compartilhar com aqueles que vieram antes de nós.




(fotos-museu ferroviário de jundiaí)