Uma das teorias mais aceitas sobre as obras rupestres paleolíticas liga essas pinturas primeiras ao início dos conceitos de magia e religião. Ao invés de serem feitas em locais de fácil acesso e visibilidade, são pinturas que ficam quase sempre escondidas. Acho que o melhor exemplo é a gruta de Lascaux. Lá, temos um corredor estreito, que leva para uma câmara onde touros e bisões correm em torno de nós. A intensidade das pinturas e seu naturalismo são impactantes. Mas porque uma obra de arte tão maravilhosa ficaria em um lugar tão escondido?
As pinturas atuariam como uma forma de “magia simpática”
Simpatia no sentido que fica aqui, vem de semelhança. Assim, por analogia, o pintor ao produzir imagens de animais que precisa caçar no ventre da terra, poderia “invocar” esses animais: pinturas na caverna, novos animais em úteros. Do mesmo modo, ao pintar um caçador ferindo sua caça, podia auxiliar que a caçada real fosse bem sucedida.
Na mesma linha de pensamento, temos a maravilhosa arte dos aborígenes australianos: para eles, o Tempo do Sonho, o tempo em que o mundo foi criado, continua acontecendo, e suas pinturas e esculturas participam na criação do mundo: se pararem de ser feitas, o mundo entrará em colapso.
A magia tradicional tem uma forte referência de magia simpática. Também entra aqui o uso de efígies, imagens para proteger ou causa o mal a uma pessoa: bonecos de barro, tecido, palha ou cabelos, que servem como elemento simpático da pessoa que é representada.
As “simpatias” populares são feitiços simpáticos, Trabalham com analogias, sempre: simpatias de amor usam rosas, mel, nomes escritos, coisas que popularmente são análogas a amor e relacionamentos. Para afastar alguém, rasgam uma foto onde se está junto da pessoa, uma perfeita analogia ou metáfora de afastamento.
Tanto o elemento análogo pode ser um objeto, como uma atitude ou situação. O que importa é que se trace na mente de quem faz o feitiço uma analogia, uma referência clara. A riqueza de elementos nem sempre é necessária, porque uma aliança passada em um fio de cabelo pode representar perfeitamente bem um casamento.
Assim, quando conhecemos esse princípio das analogias, conseguimos enxergar muitos elementos da sabedoria popular com clareza: a tesoura que corta os pesadelos, a vassoura atrás da porta para varrer os indesejados (e posta de ponta cabeça, o que geraria incômodo, como elemento análogo também da pessoa que se quer mandar embora), o espelho que reflete longe as más influências.
E do mesmo modo, quando se precisa de algo, a magia simpática e as analogias vem em nossa prática: os sapatinhos vermelhos que meu filho ganhou ao nascer, o sal que jogo no telhado para afastar a chuva, os símbolos que uso para representar os Deuses, como o machado que para mim é analógico de Diana. Muito mais eficaz que copiar um feitiço que não significa nada para você, é seguir essa trilha, e buscar pela magia simpática e as analogias.
Para uma visita virtual a Gruta de Lascaux, (em francês ou inglês), olhe
aqui.