sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Preparando o natal

Natal é tradição importante na minha casa. Criada dentro de um cristianismo folclórico e mágico, aprendi a reconhecer a meia noite do dia 24 de dezembro como uma espécie especial de "hora mágica". Onde a fé das pessoas movimenta as coisas e permite que se realizem bençãos e se purifique coisas.

Veio da Itália a tradição dos presépios, e assim foi também em nossa casa. Inclusive, temos guardado um pastor e um camelo do primeiro presépio em terracota que nossos antepassados trouxeram da Itália. O presépio atual, pintado por mim como um presente para meus pais (mesmo eu já sendo pagã há uns bons anos quano o fiz), tem um tom barroco de pintura e é uma cópia de um presépio veneziano.

Tem todas asquelas características de um legítimo presépio popular: espelho que serve de lago, serragem e areia para os tortuosos caminhos que serão seguidos pelos pastores (que chegam à mangedoura na meia noite de 24 de dezembro, quando o menino deus é colocado nela) e os reis magos (que seguem a estrela em papelão pelo fundo estrelado pintado para chegar no dia 6 de janeiro com os presentes) , peças compradas depois (ou herdadas de presépios antigos) que nada tem a ver com a decoração das peças principais. Armar o presépio, independente de religião, é um ato de resistência folclórica. A cada ano, acrescenta-se algo novo, que o amplia, melhora, deixa ainda mais único e mais folk.

E é claro que ele tem sua magia: A oração feita ao montar o presépio para que estejamos juntas no próximo ano repetindo o ato. A ordem cuidadosa com que minha mãe lê a ascendência de seu Cristo. O ato de reunir a todos na meia noite do dia 24 para a cena da chegada do menino deus, colocado em seu lugar pela criança mais nova presente. A movimentação diária das peças, e a chegada trifunfal dos reis magos, com mais presentes, comida e toda a m,ovimentação do Dia de Reis. 

Criei o hábito de deixar esmolas nos presépios. Assim como no presépio de casa de vez em quando alguém deixa umas moedas, cada vez que passo perto de um presépio, deixo lá as moedas que eu tiver. Dá boa sorte. Durante o tempo em que está montado, o presépio é um forte ponto focal de energia. Minha mãe deixa de fazer suas orações diante do oratório (ela mantém um altar cristão muito interessante) para faze-las diante do presépio. Já vi muita reza pelos mais variados motivos acontecendo em frente a presépios - inclusive os públicos.

Esta semana, o presépio está sendo tirado das caixas e erigido novamente. Alémd o presépio grande, existem outros. Um pequeno em porcelana, cada figura com pouco mais de 5 cm sobre um móvel, um feito em vidro soprado, dentro de uma bola de natal transparente do tamanho de uma mão.

E o meu, que deixo "montado" no meu larário, cujas peças em ferro fundido são tão pequenas que o presépio todo fica montado dentro de uma caixinha de anel.

A isso se somam árvores de natal, enfeites de luzes, papais Noéis e Befanas, meias, guirlandas. Na árvore de natal, nossa mais recente tradição é que estamos buscando completar o que uma tradição alemã diz sobre os enfeites que não podem faltar nelas: ao menos uma casa, para proteção, um coelho para esperança, uma xícara para hospitalidade, um pássaro para alegria, uma rosa para afeição, uma fruta para generosidade, um peixe para benção, uma pinha para fartura, um coração para amor verdadeiro, uma flor para bons desejos e um Papai Noel para bondade.

Na minha casa, o Natal não é a festa do Cristo (embora o seja para minha mãe). É a festa dos antepassados e das crianças, onde as histórias do passado se mesclam com a alegria do futuro. É hora de comer, beber e se alegrar (e nada mais pagão do que isso), contando histórias dos que já se foram e festejando com os que chegaram agora. É hora de reunir aqueles que importam e presentear não por convenção social, mas para tornar físico o carinho de todo um ano juntos. Na minha casa, tem folhas de hera na mangedoura, e nenhum deus parece reclamar disso.

3 comentários:

Raven Luques McMorrigú disse...

Holla Strega! ^^
AMEI o texto, em casa mantenemos a tradição do presépio, costume português e lusitano de nossos Ancestrais. É costume nosso enfeitar o presépio com ramos de cedro, tal como uma senhora antigamente fazia aqui em Jacareí, numa casa antiga, próxima à Igreja Matriz....lá dentro, senti pela primeira vez, ainda quando neno, o que é de facto um Círculo Mágico....me recordo das luzes de velas....as luzes coloridas...o chão de lajotas rústicas multicores.....o perfume do cedro.....as orações feitas diante do presépio, enorme, repleto de bonecos de animais, e das imagens dos pastores, reis magos, e da Sagrada Família...Pratico uma tradição lusitana: ao desmontar o presépio no dia 6 de Janeiro, deixo somente os Três Reis Magos, os camelos, e ponho pros Reis vinho e uma fatia de panetone, e para os camelos água e frutas cristalizadas....salpico com esse vinho a casa, algumas gotas somente, assim como molho as bordas do ícone dos Três Reis Magos que fica no Larário de Casa, bem no comércio nosso, a Alfaiataria, na frente de casa, para continuarem a atrair clientela, trabalho e riquezas várias para nosotros...

Bendiciones de Luz siempre a todos nosotros!!!

/|\

Green Womyn disse...

Caramba, que texto lindooooo!

Queria ver seu presépio de ferro fundido... Que vontade que deu!

Uma curiosidade: e depois de desmontar o presépio, o que se faz com as moedinhas?

Beijo!

Ariany Moreira disse...

Acho tudo isso muito pagão, reunir a família, contar histórias, resgatar lembranças!

Sim, muito belo o gesto de guardar peças antigas, para serem postas no presépio!

Adorei ler cada palavra e saber que não sou a unica que acredita que não precisa ser indiferente às outras crenças, para ser pagã!

Bençãos plenas!