Meu altar dos ancestrais foi a primeira coisa que me ligou a bruxaria italiana. Eu ainda estava um pouco voltada para a wicca (embora já não me sentisse em casa lá), quando li um livro do Grimassi, onde ele citava a questão do altar dos ancestrais. Como sempre tive uma ligação muito intensa com minha ancestralidade, eu achei aquilo perfeito. Com o passar do tempo, fiz meu lararium, usando um bocado de referências reconstrucionistas e um pouco de adaptação...
O altar propriamente dito é um oratório de gesso, que pintei de dourado e prata. Com o tempo, a tinta dourada ficou coberta de zinabre, o que deu essa aparência verde para ele. Eu tinha comprado o oratório pensando em dar de presente para minha mãe (eu pintei um e coloquei uma Nossa Senhora dentro para ela, queria fazer um par), mas este era maior do que o primeiro. Além disso, embora visto de frente ele seja bem barroco, as laterais dele são colunas e parte de frisos greco romanos...
Em cima dele, tem um anjo que ganhei da minha prima. Eu tinha 15 anos e ela 10. Escolhi ele entre todos os anjinhos que ganhei na adolescência (como a família sabia que eu gostava de coisas "místicas", todo mundo me dava anjos de presente...) porque ele é uma versão chinesa de uma escultura romana. Eu ia colocar a comparação dos dois aqui, mas não encontro
o original romano aqui no micro. Ele segura um vaso, quase uma jarra, em uma mão e um ramo na outra. Lembra bastante a imagem dos lares.
Ela começou a ficar em cima do altar porque ele é bem pequeno em termos de espaço. Então, colocando a imagem no alto, tenho mais espaço para as oferendas.
Ele fica praticamente em cima do balcão que divide minha cozinha e minha sala. Posso dizer que ele fica no coração da casa. Antes, no tempo em que dividia a casa com meus pais, ele ficava no quarto. Quando o André nasceu, três dias depois, passamos um tremendo susto e fomos morar na casa da minha sogra por cinco meses. Eu lembro de passar pela porta dela de madrugada, carregando o altar em um braço e o bebê no outro. Desde que ele foi montado pela primeira vez, é alentador poder olhar para ele. Me transmite segurança e paz, e o sentimento de nunca estar sozinha.
Em cima dele, tem o cristal lapidado como uma estrela que meu avô me deu, um búzio quase grande, uma lasca de pedra branca, sementes, um medalhão com a imagem de um cão/lobo, um lobinho toscamente entalhado em gesso, uma chave que encontrei em uma encruzilhada de três caminhos, minha Vênus de Willendorf, que eu carregava no pescoço, mas que a argola desgastou e partiu, e minhas oferendas: paus de canela, rosas do jardim, flores da pitangueira, e uma caixinha de porcelana cheia de sal marinho. Outra caixinha de porcelana serve para acender as velas. Sempre acendo três, porque aqui em casa somos três.
Ainda não tem tudo que quero que tenha, principalmente por ser bem pequeno. Mas espero logo conseguir uma prateleira para por junto com ele, que vai me permitir deixa-lo mais completo.
Nele, o fogo queima e me lembra do fogo da família, das chamas que aqueceram meus ancestrais e hoje me aquecem. Nele, deixo as vezes fotos de meus antepassados, ou objetos que pertenceram a eles. Nele deixo minhas orações e um pouco do que existe de melhor em mim, minha fé e meu amor.
3 comentários:
Opa, retirei o meu comentário posterior pois o vou utilizar na postagem que a Pietra pediu, fica chato ter que ler tudo novamente! hahahaha
Mas deixo o comentário que adorei a idéia e estou louca pra ler sobre os altares das outras pessoas.
Beijocas Enluaradas
Sarah...me senti transportada ao ler e ver, admirar e sentir...
Lindo, lindo e lindo...
E mais uma vez, tuas letras me fazem viajar longe...
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