segunda-feira, 15 de março de 2010

Um pouco sobre Hécate

Dando continuidade à ótima idéia da Inês de falar sobre Demeter, e a Pi de falar sobre Apolo, me vi pensando sobre qual divindade deveria ser meu foco aqui. Acabei decidindo falar de Hécate, porque meu trabalho como streghe é feito sob os auspícios da Trívia.

Hécate é uma deusa muito incompreendida. Isso é definitivamente o maior lugar comum com que se pode começar um texto sobre ela, mas é verdadeiro. Aliás, muita gente que diz que ela é incompreendida também não entende muito bem quem é Hécate e principalmente (porque não tenho a pretensão de compreender os deuses), como ela se relaciona com os mortais.

Meu primeiro contato com Hécate foi no mínimo inusitado. Foi lendo o Manual do Escoteiro Mirim. Lá, eles em uma parte sobre simpatías, sorte, tradições, ensinavam a fazer a Ceia de Hécate, como devia ser preparada a comida e deixada numa encruzilhada para que os cães de rua lidassem com a oferenda, porque eles são os enviados de Hécate.

Bem coisa dela, estar em um lugar tão surreal como o Manual do Escoteiro Mirim.

Bom, com isso dá para perceber que essa relação é um "namoro antigo".  Mas só iria para frente muito tempo depois, quando encontrei uma chave antiga no meio de uma encruzilhada em Y, e passei a andar com a chave pendurada todo o tempo no pescoço. Estava passando por situações bastante complicadas, e foi graças a Hécate que fui capaz de sobreviver ao turbilhão em que me encontrava.

  A Trívia não é uma deusa sempre doce, gentil e agradável. Na verdade, é uma deusa exigente e rígida. Mas isso é característico de divindades que, como ela, criam uma relação tão próxima dos devotos, e que na medida com que é exigente, dá em troca todo o auxílio que se pode precisar.

A primeira coisa que preciso dizer sobre Hécate é que a visão de Hécate como uma anciã é uma percepção moderna que em nada se relaciona com o modo como os povos antigos a viam. Pelo contrário. Acho que o melor exemplo disso é este vaso grego de cerca de 500 antes do tempo comum:

Hécate é representada usualmente como jovem, "donzela". Sim, ela é Trívia, tem três faces, mas nas suas representações clássicas, todos seus três rostos são jovens. Isso já muda muito da nossa percepção sobre ela. Não estamos falando de uma energia de menopausa, mas de juventude : ela é a protetora das crianças e dos partos, afinal de contas.

Não quero dizer que quem a vê como anciã está errado. Mas é importante entender que os antigos não a viam assim. O conceito de donzela-mãe-anciã não é um conceito que se aplicasse na antiguidade clássica, e a Trívia é, sim, antiga, mas como imortal, não envelhece, se mantendo sempre no auge da sua força.

Hécate é uma divindade que era muito cultuada em conjunto com outros deuses por ser vista como uma "advogada", "intercessora" pelos homens (sim, está entre aspas porque são termos usados ligados à Maria cristã, mesmo). Assim, quando era preciso pedir que um deus o favorecesse, as orações e sacrifícios eram feitos para a divindade de quem se desejava o favor e també para Hécate, pois ela intercederia em favor dos mortais, aproveitando o fato de que seu poder se extende por "terra, mar e ar".

Se a Trívia está relacionada aos mortos? Sim. Como condutora e senhora dos caminhos, é ela também quem guia as almas dos mortos para o Outro Mundo, e tem poder para afastar/comandar fantasmas e espíritos.

Senhora da noite, se torna também senhora da magia, mas isso é assunto pra outra hora... porque só o conceito de magia naquela época e como é diferente de hoje em dia, já dá um texto enorme.

Por fim, é interessante pensar que Diana, embora se assemelhe a Ártemis, também é muito semelhante à Hécate, por isso acho impróprio compara-la com as divindades gregas. Diana é... Diana, senhora da noite, da lua, das bruxas e dos cães, e nisso ela se assemelha muito mais à Trívia do que a Ártemis, mas ainda assim, não acho que possamos traçar uma equivalência precisa no caso dessas deusas gregas e romanas.


Vou ir falando mais sobre Hécate e sobre o trabalho de magia que Hécate ensina e orienta aos mortais. Espero que gostem. Dúvidas, sugestões, pensamentos, é só falar.

10 comentários:

P. disse...

Ótima postagem, adorei. Complicado falar de Hécate.

Max Freitas disse...

Nossa! to me sentindo em um episódio do "Além da Imaginação" hehehehe...Desde ontem tenho sentido Hécate muito presente, passei o dia inteiro com essa sensação,agora eu resolvo passar aqui pra ver se teve atualização, quase cai pra trás!!!hehe eita sincronização junguiana!

Inês Barreto disse...

Hoje mesmo eu estava lendo sobre magia no livro "Bruxaria e História", do Carlos Alberto Nogueira. Estou terminando o primeiro capítulo, e ele fala um pouco dessa relação de Hécate e Plutão com a magia, assim como de Diana.

Fernando disse...

Esse tema é bom para debater na lista... :-)

Daniel disse...

Muito bom o texto!

Green Womyn disse...

Gostei muito do texto, obrigada, Filhote de Lua.

No livro da tradição que sigo há um capítulo sobre um monte de mal-entendidos em relação a Hécate, é muito legal!

Green Womyn disse...

Eu tinha só os 3 primeiros volumes da Biblioteca do Escoteiro Mirim... Um de meus sonhos de consumo é comprar a coleção toda num sebo, algum dia...

Rô Rezende disse...

Gostei bastante do texto, e realmente que lugar surreal para se estar! rsrs...

Quando você falou das características de intercessão de Hécate, a primeira coisa que pensei foi Maria rs.

Mas agora pensando, essa característica a liga a Hermes? Ele também tem essa coisa de ser mensageiro dos deuses, né? Se bem que para mim os dois são bem ligados...

Max Freitas disse...

Tanto nessa questão da intercessão,quanto no fato que tanto Hermes,quanto Hécate são psicopompos..além da relação forte de ambos com a magia...É, Eles realmente são bem ligados!

Hugo disse...

Parabéns, é a primera vez que encontro em um blog brasileiro informações postadas de forma clara, coerente e verdadeiras. O culto a Deusa Hekate dentro dos rituais são para mim um privilégio e são momentos em que meu espirito encontra a verdadeira paz. Blessed Be. Laehar