terça-feira, 19 de abril de 2011

Tarot e ancestralidade italiana 2

Quando a ficha caiu em janeiro, eu dei uma pincelada no assunto.


Agora vamos sentar e pensar no assunto para valer.


Tudo começou com o livro do Robert Place e as pesquisas que ele fez junto ao filósofo Michael Dummet. Dummett dedicou uma parte de seus estudos para as cartas de jogar e, dentre os jogos, encontrou o tarot. E com o tarocchi, nome do jogo na Itália, uma história que muitas vezes é negada frente às várias correntes esotéricas. Segundo Dummett:
"O centenário entre 1730 e 1830 foram os anos do jog de taro florescer; provavelmente não era jogado apenas no norte da Itália, leste da França, Suiça, Alemanha e Império Austro-Hungaro, mas também na Bélgica, Dinamarca, Suécia e mesmo na Rússia. E não apenas eram nesses locais os de mais fãs, mas durante esse tempo, tratava-se de um jogo internacional - foi assim então e é até hoje...." Dummett, Michael (2004). A History of Games Played With the Tarot Pack: The Game of Triumphs, Vol. 1. (tradução minha)


E com esse material super rico, Robert Place desenha um caminho histórico para o tarot e ele nasce onde nasce a minha família: no norte da Itália!


Quando foi buscar a etimologia de Tarot, tarocchi, nada se encontrou. O nome nasceu com o jogo. E isso mostra sua originalidade; há porém, quem diga que tudo começou com o rio Taro, que é um afluente do Rio Pó (que banha a cidade onde meus bisavós nasceram). O que é importante saber sobre o rio Taro é que ao longo de seu percurso, algumas cidades se tornaram centros de produção de papel, e segundo Dummett nada mais importante para a popularização das cartas de tarocchi que o papel. Afinal de contas, com ele, o custo era menor e a forma de fazer mais rápida e simples de transportar.


Dummett encontrou evidencias de que o tarot aparece em relatos escritos a partir de 1440 em Ferrara, It. E era chamado de Carte di Trionfi. E, a partir do jogo, a divinação se seguiu.


Os tarots mais antigos não tinham a mesma padronagem que chamamos de tarot hoje. Aliás, o que existem em comum desde o séc. XV até hoje são os 4 naipes (ouros, copas, espadas, paus - que podem mudar de nome de acordo com o deck), o Louco (ou o Coringa) e algumas das virtudes. O primeiro deck completo que se tem notícia se chama Sola Busca e pode ser encontrado em museus de tarot.


Depois desse nascimento para jogar, as cartas começaram a repetir seus padrões de cartas e de personagens, dando origem ao deck que temos em mão hoje. Cada cidade-estado italiana, na época do Renascimento, fez um padrão de acordo com sua sociedade e entendimento, porém, alguns desses padrões passaram a ser conhecidos amplamente, como o Minchiatti de Florença - que tinha 40 trunfos (arcanos maiores) mais os naipes.


As evidências encontradas na Itália sobre a divinação com as cartas, juntam o tarot à outras formas de oráculo, como a divinação com ossos, que era feita com 56 peças - tal qual os arcanos menores - é aqui que Dummett diz que não encontra a Cabala associada ao tarot, pelo menos em sua origem (e eu, PIETRA, gosto de manter a coisa assim). 


Quando os estudos de Jung floresceram, falavam e falam de símbolos e arquétipos que se repetem durante toda a humanidade, passando entre gerações via inconsciente coletivo. Uma vez que temos os primeiros decks retratando o cotidiano da corte de uma cidade estado, estamos falando de papéis sociais e que se repetem entre pessoas e pelos séculos - e com a modernidade e a contemporaneidade, ganham novos nomes, mas suas essências permanecem. 


O que parece recorrente ao longo de sua história é que o tarot ganha, além de fãs e estudiosos, ganha mulheres que os ilustram, assim, com os anos de Pamela Colman-Smith a Frieda Harrys ou Lisa Hunt, a arte e a mão de homens e mulheres montam essa história de, pelo menos, 500 anos das cartas de jogar e adivinhar nas nossas mãos humanas.


O que é importante ressaltar é que o tarot, o tarocchi, as cartas de jogar são populares na Itália e cresceram e se desenvolveram em diversos países, preponderantemente na Itália e na França; o que acaba por nos afastar um tanto das ideias esotéricas de que o tarot seja um livro dos mortos, ou uma espécie de livro sagrado egípcio ou oriental. 


Eu fiquei pensando muito nisso. De como faz sim, muito sentido e que é muito próprio que eu seja taróloga como strega. E de como é lindo saber que o tarot esteve sim entre os meus ancestrais e que hoje, eu posso, como operadora e estudiosa do oráculo lidar com as mesmas cartas que meus ancestrais jogavam - talvez até, que divinavam. Se pensar pelo lado do inconsciente coletivo, talvez o tarot tenha chegado assim. Se pensar pelo lado da ancestralidade tanto espiritual quanto sanguinea, eu tenho como lidar com isso tudo. E que felicidade! 


Eu sempre tive o sentimento que estar com deck na mão me completa. 
Fazer o trabalho de oráculo, de filha de Apollo via tarot é o complemento perfeito e o fazer exato da minha espiritualidade. É assim que eu posso exercer minha espiritualidade e ser quem eu sou!


Pietra, strega e taróloga 
de onde tudo vem do norte da Itália

6 comentários:

Luciana Onofre disse...

posso dizer que amei?

que tua felicidade seja perene, com teus decks, com tua divinação, com tua raíz, com tudo aquilo que te define e delineia!

Girassol disse...

Foi um presente ler esse texto! :)

Anônimo disse...

Visconti Sforza deck (Milano 1442):
http://it.wikipedia.org/wiki/Mazzi_Visconti-Sforza

Unknown disse...

Obrigada, pessoas...
Quem colocou o link sobre o Visconti Sforza, pq fazer isso como anônimo? Coloca seu nome... e obrigada! A entrada na WIKIPEDIA tem umas imagens lindas =)

*Hera disse...

Lindona, jà tinha comentado com vc: Como deve ser maravilhooso descobrir que algo que lhe è tao importante jà foi usado pelos teus ancestrais e qua faz parte do que vc è!

E' lindo mesmo!
Otimo texto, e penso como vc..nada de egpicios..fomos NOS que criamos hihii

Beijos Strega Lombarda!

Marina. disse...

Olá Pietra, é sempre bom ler e estudar a história e ancestralidade daquilo que nos completa espiritualmente.
Muito bom ler este texto.
Mas em relação à polêmica da "origem", prefiro ficar com a minha fé na simultaneidade. Assim como povos na Europa, Africa e América desenvolveram estudos e práticas de oráculos, e em diversos outros aspectos no cotidiano, prefiro acreditar também nessa sincronicidade regional da prática do Tarot.

Beijos,
Marina.