Em 2007, a Sarah Filhote de Lua já fez um escrito... e falava como muitos tendem a idealizar seus ancestrais e acabam por deixar de lado coisas deles que estão, intrinsecamente, dentro de si... Também fizemos outros vários textos falando de sentimentos, experiências e até palestras...
Ancestralidade é um veio de tradições, práticas e significados que corre um espaço e tempo e que deixa determinadas marcas em um grupo. Falamos aqui de pessoas e lugares. Literalmente. É a ancestralidade que permite que hábitos, crenças e manifestações não morram, não se percam.
Houve um tempo no qual as culturas e povos se estabeleceram e os grupos humanos começaram a perceber suas diferenças, características próprias, necessidades. Língua, como sua terra se comporta... e como o grupo que ali vive lida com isso.
Ancestralidade se firma ali, em tempos remotos e vem junto com as gerações. Claro que coisas passam, se modernizam, outras morrem ou se transformam. Porém é a ancestralidade e seu sentimento que faz com o que o Brasil seja Brasil em seus milhões de manifestações de vários "Brasis". E o mesmo se faz Itália ser Itália entre as mts Itálias... e assim vamos para todos os povos. Nativos, colonos, ex-escravos... todos temos algo, um sentimento, um verdadeiro espírito para nos reportarmos.
Esse espírito, porém não é único e acabado. Ele tem algumas nuances. E todas elas tocam e dão os detalhes da nossa prática espiritual e da nossa constituição como pessoas. E aqui, geralmente eu penso que tudo é uma coisa só: a espiritualidade de uma pessoa é a sua forma de ser e de viver.
Ancestrais de sangue: são a nossa primeira parte, pois somos carne e sangue de alguém... que também o é de alguém e assim vamos, desde que o mundo é mundo. Geralmente é desses que herdamos nossos traços físicos, hábitos, crenças... porque é na família que temos o nosso primeiro centro de convivência com outras pessoas. E cada família é um universo, tem seus valores, princípios e fazeres. Embora seja a nossa base, nem sempre é daqui que vem a herança espiritual. Pode ser, mas, em alguns casos, algumas pessoas resolvem não seguir a espiritualidade dos pais. Mas, ainda e de tudo, muitas formas de fazer coisas residem aqui.
Ancestrais da terra: sob o grande corpo de Gaia, muitos grupos humanos viveram e vivem. Alguns até perdidos no tempo, quem nem vamos saber seus nomes, suas línguas, seus hábitos. Outros porém, são marcas muito importantes. Tanto que conseguimos falar de distinções entre brasileiros e argentinos... de italianos e irlandeses... e por mais engraçado que seja, conseguimos, observando e vivendo juntos, ver muitas semelhanças. Os ancestrais da terra são todos aqueles que vivem ou viveram onde estamos, onde nascemos ou onde moramos. Quando a Sarah fala sobre os espíritos do local, é uma parte do que estamos falando, pois quem viveu aqui antes de nós tem um conhecimento mais amplo da terra e de seus movimentos do que nós. Seja aqui no Brasil, seja lá na Itália. Portanto, quando chegamos num novo lugar, pq não conhecer seus espíritos e seus ancestrais e honrá-los? Porque certamente, farão, de alguma forma, parte da nossa experiência de vida. Tal qual aqueles que já convivemos.
Ancestrais de prática: são todos aqueles que andaram em nosso caminho de prática e espiritualidade antes de nós. Acredito que, quando algumas streghe fazem louvação a Aradia, por exemplo, tem esse sentimento e esse pensamento: de quem já foi bruxo antes de nós.
Deuses Lares: deuses romanos que são a essência da casa e que guardam os espiritos dos Ancestrais. Com Vesta, fazem a casa estar protegida, cuidada e quente. São honrados com oferendas de alimentos, com fogo, incenso e flores. O Altar aos Lares, o Lararium era um ponto central numa casa romana. O fogo de Vesta não se apagava e mantinha o lar e seu sentimento de vida.
As pessoas são diamantes de muitas faces brilhantes. Talvez umas sejam maiores ou mais bem polidas que as outras, mas, decididamente, todas estão ali.
Então, no dia 1o. de junho, vamos nos contituir, observar e honrar todas essas faces desses espíritos que fazem de nós o que somos. Se aprendemos os nossos caminhos, eles vem de algum lugar; se fazemos uma cura, é pq ela tem de onde vir; quando fazemos nosso trabalho espiritual, não estamos sós... nem sem Deuses, nem sem ancestrais... nós, humanos e viventes e bruxos somos algo; algo entre nossos Deuses e nossos ancestrais.
Pietra
Um comentário:
Olha só...
Eu acho que devemos honrá-los pelo que são...
Há quem diga que não devemos render às pessoas rituais que não são da sua espiritualidade, tal qual, talvez, não gostassemos que o fizessem para nós. É como uma via de duas mãos.
Porém, eu penso que, quando estamos lidando com os nossos ancestrais, sem dar nome aos bois, meu avô tal, minha avó tal, conseguimos lidar com o espirito da Ancestralidade através da nossa espiritualidade.
De todo o jeito, quando meus avôs se foram, rezei à Hermes, por exemplo, que os levassem rápido e em paz, mas os ritos funebres foram católicos.
Ficou claro?
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