Eu estava com esse texto engatilhado quando surgiu a proposta do desafio pela Pietra. Então, fica aqui meu texto como mais um ponto de vista dentro do assunto...
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Sábado. Correndo antes de sair para o salão onde estava acontecendo a festa de aniversário do meu filho (tinha ido buscar umas coisinhas esquecidas ara trás). Parei diante do altar dos ancestrais. Desejei tanto que eles estivessem conosco para compartilhar nossa alegria... voltando para o quarto, peguei uma vela colorida e bonita que tinha comprado sem saber bem para o que ia usar, e acendi. Fiz uma breve oração pensando nos ancestrais que não chegaram a conviver com meu pequeno e especialmente com aqueles que conviveram com ele, ainda que de forma breve. Acendi a vela, e sorri.
Em minha memória, se empilham momentos assim. Uma coisa que aprendi sobre honrar e celebrar os ancestrais é que independente de religião, algumas coisas são quase sempre presentes:
* Uma forte sensação de que mesmo mortos, ainda somos parte da mesma família. Nossos ancestrais, nossos mortos, dividem conosco uma história, e são presentes em nossas vidas - como um dia nós seremos na vida de outras gerações.
*Comer é uma atividade que nos lembra quem somos, e por consequência, quem são nossos ancestrais. Festejar ou fazer um mero almoço cotidiano são igualmente momentos em que nossos mortos queridos podem ser lembrados. Comida é a oferta mais comum aos ancestrais, em todo o mundo.
*Contar histórias, olhar fotografias, ouvir nossos velhos e ensinar o que descobrimos aos que se interessarem em ouvir, é tão importante quanto rezas e rituais. De certa forma, isso são rituais.
Meu altar dos ancestrais é o que minha avó chamaria de barafunda. Nele se misturam devoções e lembranças para os ancestrais da família, os espíritos do caminho que trilho, do lugar onde moro, para os lares e outras deidades domésticas. Ao que parece, as medalhinhas de santos católicos e as imagens de Lares romanos parecem conviver bem, e eu tento ser "ecumênica" quando diante daquele altar. Ali, não importa os deuses que eu cultuo ou o deus da minha avó. Ali, as coisas são entre nós, entre os espíritos e eu. É uma conversa de cozinha, de pé do fogo.
Existem sim festivais em que a coisa é entre eu, os deuses e os mortos. Mas ai é outra conversa. Um, porque não se trata de um ancestral específico, e outro, que as vezes pedimos aos deuses por pessoas que são de outras fés, sem ofensa alguma e com todo o respeito por essas pessoas.
Mas no dia a dia, fora desses festivais ou excessões, o meu culto aos ancestrais, minha devoção a eles, se dá com comidinhas oferecidas, um café, uma cantiga relembrada. Uma velinha ou um incenso gostoso, e uma sensação quase infantil de poder pedir colo para a avó. Sempre que tem um evento importante na família, que alguém nasceu, morreu, fez aniversário, se formou, arranjou namorado, casou, parar ali para lembra-los, acender uma vela, ou dividir um cupcake, para que eles façam parte daquele momento.
Sempre, é essa sensação de dizer a eles: "Vocês fazem parte da minha vida, de quem eu sou hoje e eu sou grata por isso."
Quando eu canto A Estrela Dalva pro meu filho ou quando faço mingau de maizena, quando aprendo a me pentear como minha bisa ou converso sobre o passado da minha cidade, eu gosto de deixar uma ofertinha para os ancestrais, os meus, os deste lugar. Porque é bom. Não é uma obrigação. É um prazer de compartilhar com aqueles que vieram antes de nós.
(fotos-museu ferroviário de jundiaí)
Um comentário:
Fiquei aqui pensando como os nossos ancestrais se relacionam com trens...
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