Hoje, durante uma aula de língua portuguesa que assisti, ouvi umas coisas que me deixaram meio preocupada...
Como uma das unidades que se estuda na escola - que é importante dizer, é confessional, ou seja, de cunho religioso declarado - é sobre folclore. E conhecer o folclore é conhecer todas as nossas grandes tradições - incluindo algumas menores que são bem regionais mesmo.
E hoje era dia do Saci... e eu confesso, tenho medo de saci... coisa de trickster mesmo...
Bom, o ponto é que a professora dizia aos alunos: existe Curupira?
Existe saci? Precisa ter medo? Mesmo se for no mato?... e eu morrendo do lado...
O Saci é uma das histórias do Monteiro Lobato e nessa, o próprio saci tem um diálogo com Pedrinho dizendo a ele que monstros existem e não existem, dado a quem acredita neles. E comenta ainda que nos mitos dos povos antigos existiam muitos monstros, porque os povos acreditavam neles... tal qual o saci, que conversava com o menino.
O que eu fiquei pensando: será que em nome de matar o "medo" podemos "matar" esses espíritos, essas marcas de ancestralidade da nossa terra? Quero dizer, em nome de não deixar as crianças de uma religiosidade que não é a nossa, podemos simplesmente dizer que tal e qual não existe? Eles não vivem na mesma terra que nós?
Por que não enxergamos, não existe? Não existe ar, então...
Eu fico pensando tanto na fantasia... quanto nesses espíritos, como o Saci, o Curupira e mesmo a Mula-Sem-Cabeçca (toc toc toc) que estão vivos em nossa tradição e cultura, quanto em todo o direito de imaginar e mesmo, de ter medo, pode ser tirado?
Não quero mesmo que as crianças se apavorem... mas que conheçam... que as coisas sejam colocadas em seus lugares.
Quando contei a história de um leprechaun, meus alunos foram na hora: isso existe? E eu sempre respondo: os irlandeses acreditam... E eles: e vc? Eu sempre acredito, pois se os povos acreditam, quem sou eu...
8 comentários:
Sabe Pietra ontem mesmo eu estava com a mesma duvida... fiz algumas fotos em homenagem a uma fadinha azul que anda passeando por aqui e minha filha sempre a vê tambem.. coloquei as fotos no meu orkut, e ontem recebi comentários do tipo "oi prima vc esta bebendo ou fumando pra ver gnomo e fada azul"... a minha resposta?? "nao é preciso beber pra poder ver fadas e gnomos basta apenas acreditar neles!! " depois disso eu fiquei me perguntando a mesma coisa com que direito tiramos essas figuras folclóricas mitológicas ou não da vida de nossos pequenos, também sou professora e me preocupo sempre com o q digo aos meus pequenos pq é minha responsabilidade prover á eles contato com todos os mundos sejam eles reais , magicos, ou imaginarios. bjs LUA
Tem pessoas muito crueis, sabe?
E sabe o que é pior, na minha opinião? ë que essas mesmas pessoas se deslumbram com coisas físicas, consumíveis... e não se deixam viver energias, sentimentos e percepções. Eu sinto mt, sabe?
Sabe Pietra, sempre gosto de ler o teu blog por tratar de coisas muito pertinentes com a sensibilidade de uma verdadeira bruxa. Pois é isso que somos: pessoas que nadam contra a corrente de um mundo moderno, capitalista, consumível e consumista. Como é bom ver que existem pequenas conchas que trazem suas pérolas em um mar de contradições.
Beijos
Adorei seu blog. Sou bruxa wicca autoiniciada há 10 anos. Estou numa fase de ler tudo sobre os ancestrais e adorei sua postagem.
Também digo a todo mundo, inclusive a sobrinhos e filhos que os espiritos (sejam quais forem, da natureza, árvores, folclore) são muito reais, principalmente se continuarmos a acreditar neles.
Abraços,
Elaine
Pode parecer estranho - pelo preconceito de 'racionais demais' que o povo tem com os recons -, mas eu já vi o curupira (entre outros seres)... E em nenhuma das vezes eu estava em algum 'estado alterado' para ver essas coisas.
chuac =*
Amore tomei a liberdade e linkei teu texto lindo sobre espíritos e ancestralidade no grupo do face Mamães Matrízticas.
Como dizem os bascos:
"Izena zuen guztia omen da".
(Tudo o que tem nome, existe).
;)
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